São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2010

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Azarão vence o primeiro debate britânico

Nick Clegg deixa primeiro-ministro Brown e favorito Cameron alternando a frase "concordo com Nick"

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O primeiro debate televisionado na história entre os candidatos a governar o Reino Unido conseguiu um feito raro para um evento do tipo: terminar com um vencedor nítido.
O semidesconhecido Nick Clegg, líder da terceira força política britânica, os liberais democratas, deixou o premiê Gordon Brown e o favorito nas pesquisas, David Cameron, alternando a frase "eu concordo com Nick". E foi apontado vencedor pela mídia britânica.
Na pesquisa da ITV, que transmitiu o debate, o desempenho de Clegg foi o melhor para 46% dos espectadores, contra 26% que citaram o conservador Cameron e 20% que preferiram o trabalhista Brown. Para a BBC, novamente Clegg saiu-se melhor, mas seguido pelo premiê.
O gráfico do jornal "The Guardian" teve Clegg à frente na maior parte do tempo, em poucos momentos superado por Brown. Cameron, que tem uma vantagem cadente de 3 a 9 pontos nas pesquisas e ontem acusou os trabalhistas de "assustarem" o eleitorado contra a mudança, ficou para trás.
Clegg, 43, está no Parlamento britânico há apenas cinco anos e lidera seu partido desde o fim de 2007. Antes, foi parlamentar europeu, trabalhou na Comissão Europeia e foi até jornalista. Embora seu partido surja com 20% nas pesquisas (os conservadores estão na casa dos 30 e muitos; os trabalhistas, dos 30 e poucos), seu nome ainda tem pouco eco.
Desde ontem, no entanto, sua aparência jovial e seu discurso combativo, que tirou de Cameron a reivindicação por mudança, se tornaram mais familiares do eleitorado. "O advento desse debate veio inserir Clegg no cenário nacional", disse o principal analista político da BBC, Nick Robinson, na TV. "Se ele apenas não estragasse as coisas, o debate já seria bom para seu partido. Mas ele fez muito mais que isso."
Primeiro a discursar, Clegg se apresentou ressaltando a oportunidade "fantástica" para uma mudança de fato no país. Ganhou pontos ao criticar os dois partidos majoritários por pouco fazerem no escândalo envolvendo o desvio de despesas reembolsáveis por parlamentares -segundo tópico mais discutido desta eleição, atrás apenas da economia.
Brown, na avaliação dos analistas, não comprometeu sua posição. Insistiu na bandeira da retomada econômica, seu trunfo, sugeriu enxugar a Câmara dos Lordes (Câmara Alta) e tornar suas vagas elegíveis (são hereditárias). E interpelou Cameron, auxiliado pelo formato de "livre debate" após as perguntas, acusando-o de não garantir que manterá as verbas para saúde, educação e segurança.
O conservador titubeou no ataque e pareceu tímido -era sobre ele que recaíam mais expectativas. Os dois principais candidatos parecem ter, em diversos momentos, solicitado o apoio de Clegg, decisivo caso se forme um governo de minoria ou maioria estreita.
Falou-se de economia, imigração (o tema tabu: todos querem reduzir a entrada de imigrantes, mas Clegg quer um sistema que não barre a mão de obra necessária), segurança, militares (o liberal democrata pediu o fim do programa nuclear britânico e foi contestado pelos demais ante a "ameaça" do Irã e da Coreia do Norte), saúde, educação e serviços públicos. O foco era política doméstica e as perguntas foram feitas (e lidas) pela plateia após triagem de um painel.
No Twitter, no auge do debate, houve 21 mil mensagens por segundo. O próximo debate, no dia 22, trata de política externa. Dia 29, uma semana antes da eleição, o tema será economia.


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