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Com sentimento anti-indígena
surgindo na eleição peruana, o
chef Gastón Acurio defende o
"patriotismo gastronômico"
com a cozinha "nueva andina"
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
Poucas horas depois da vitória do esquerdista Ollanta
Humala no primeiro turno da
eleição peruana, domingo
passado, xingamentos racistas tomaram conta da internet, redes sociais e jornais
peruanos. "Índio de merda"
e "cholo" foram alguns dos
epítetos lançados contra Humala, que é indígena.
O superchef Gastón Acurio
foi um dos primeiros a protestar contra essa onda de intolerância no Peru, em sua
página no Facebook.
E Acurio deixa claro que,
caso a situação política no
Peru piore, não vai deixar barato. "A situação está péssima", disse o chef à Folha.
"Quando surgem vozes racistas, nós, os cozinheiros, somos os primeiros a sair nas
ruas para protestar."
Humala vai disputar o segundo turno no dia 5 de junho contra a direitista Keiko
Fujimori. Ela é filha do ex-presidente Alberto Fujimori,
atualmente cumprindo pena
de 25 anos de prisão.
Acurio está longe de ser
um simples cozinheiro -é
uma lenda viva no Peru. Ele
popularizou a cozinha peruana ao redor do mundo e
ajudou a transformá-la em
uma das mais admiradas.
Com a chamada cozinha
"nueva andina", ele pôs no
dicionário ingredientes como o rocoto, espécie de pimentão picante, e o ají, um
chili. Tem restaurantes em
dez países. Em julho, abre em
Nova York. No ano que vem,
promete um Astrid & Gastón,
seu restaurante mais gourmet, no Rio de Janeiro.
"Os peruanos têm muito
orgulho de sua cozinha, trata-se de um rito de libertação
para um país acostumado a
ser exportador de matérias-primas, terceiro mundo, a ser
importador de cultura", diz.
"Estamos usando a cozinha no Peru como Mandela
usou o rúgbi na África do Sul,
para unir o povo."
Como contraponto ao racismo, Acúrio prega o "patriotismo gastronômico". A
emergência da cozinha peruana faz parte de um movimento de patriotismo gastronômico que está se espalhando pela América Latina, diz.
"Precisamos deixar de
olhar para a Europa e começar a usar nossos ingredientes, nossas ideias." No Brasil,
Alex Atala, que aposta nos
ingredientes amazônicos, seria um expoente dessa nova
cozinha, diz. No México,
Enrique Olvera, do Pujol.
"É hora de conquistar o
mundo usando nossos ceviches (prato feito com peixe
cru marinado no limão) e tiraditos (tiras de peixe cru),
em vez de tanques", diz.
A eleição do Peru seria
mais um sintoma da necessidade desse mergulho na
identidade nacional. "Apesar de ter um dos maiores
crescimentos do mundo, o
Peru vive apenas meio milagre econômico. Precisamos
incluir no crescimento os
30% da população que nunca foram beneficiados."
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