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AMÉRICA LATINA
Cresce pressão pela saída de Ricardo Brinzoni, acusado de se omitir sobre crime político e de se ligar a neonazista
Escândalo ameaça chefe militar argentino
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
Chamado a depor na semana
que vem como testemunha no caso sobre um massacre de presos
políticos durante o último regime
militar argentino (1976-83), o general Ricardo Brinzoni, atual comandante do Exército do país,
pode estar com seus dias contados no cargo que ocupa há um
ano e meio.
Além das denúncias de que encobriu o massacre, Brinzoni protagonizou um episódio constrangedor e ainda mal explicado -ele
contratou um advogado filiado a
um partido neonazista para representá-lo e a outros militares no
caso.
Um grupo de deputados e o
Centro de Estudos Legais e Sociais
(Cels), uma das mais ativas organizações de defesa dos direitos
humanos no país, pediram a destituição de Brinzoni.
Silêncio
Oficialmente, o governo não comenta o caso e diz que é um assunto que compete à Justiça. Mas
o Ministro da Defesa, Horacio
Jaunarena, sugeriu a Brinzoni
manter silêncio absoluto para sair
dos holofotes e evitar uma repercussão ainda maior no caso. Brinzoni está nesta semana em viagem
oficial aos EUA.
O caso pelo qual o general é acusado começou a ser levantado na
década de 80 pelo Cels, que fez
uma primeira denúncia em 1984,
para tentar evitar uma das promoções a Brinzoni.
O chamado "massacre de Margarita Belén" ocorreu em dezembro de 1976, pouco após o golpe
militar que derrubou a presidente
Isabelita Perón (1974-1976), na
Província do Chaco (cerca de
1.050 km ao norte de Buenos Aires), onde Brinzoni, então capitão, ocupava o cargo de secretário-geral do governo militar interventor da Província.
Confissão
Na madrugada do dia 13 de dezembro, um grupo de presos políticos (militantes de esquerda e peronistas) foi retirado da penitenciária de Resistencia, capital do
Chaco, supostamente para ser levado a uma prisão de segurança
máxima na Província vizinha de
Formosa.
No caminho, os 22 prisioneiros
teriam sido levados a um descampado, onde, segundo conclusões
de investigações da Câmara dos
Deputados, eles foram mortos
após terem sido torturados.
Pela versão oficial do Exército,
os presos tentaram fugir e entraram em confronto com os militares. Alguns dos corpos nunca foram encontrados.
O caso, que até hoje permanece
sem um esclarecimento formal,
ganhou força na semana passada
com a confissão, feita por Brinzoni em uma entrevista ao jornal
"Norte", do Chaco, na qual ele
confirmou que o episódio ocorrido em 1976 foi realmente um
massacre, não um enfrentamento, como sustenta a versão oficial
do Exército.
"É duro dizer isso, mas os presos foram executados", disse
Brinzoni ao jornal. Ele afirmou
que só tomou conhecimento da
verdade nos anos 80, por meio de
uma investigação particular.
"Temos elementos para sustentar que ele sempre soube o que
aconteceu", disse à Folha o diretor-executivo do Cels, Victor
Abramovitch. "Mas, se ele afirma
que descobriu [o massacre" só na
década de 80, queremos saber o
que ele fez com a informação e as
pessoas que ele entrevistou para
chegar a essa conclusão. Isso ele
não diz."
O centro deve esperar o depoimento de Brinzoni à Justiça na semana que vem, pedido pelo juiz
federal Carlos Skidelsky, do Chaco, num processo aberto para investigar a verdade no caso do
"massacre de Margarita Belén",
para apresentar uma denúncia
criminal contra o comandante do
Exército.
Neonazista
A situação de Brinzoni complicou-se ainda mais pela revelação,
há algumas semanas, de que Enrique Torres Bande, o advogado
contratado por ele e por outro
grupo de militares de alta patente
acusados de envolvimento no caso, é também um dirigente do
partido Novo Triunfo, de caráter
neonazista.
Forçado pelo Ministério da Defesa, Brinzoni dispensou Bande
tão logo a história se tornou pública, mas o general se tornou alvo
também de entidades judaicas,
que se acabaram se juntando aos
que pedem sua destituição do cargo.
Consultado ontem pela Folha, o
Ministério da Defesa disse que o
governo não pretende comentar o
caso enquanto estiver na órbita da
Justiça e que não há nenhum plano de substituir o comandante do
Exército.
Na semana passada, um comunicado oficial do Ministério dizia
que Brinzoni "não teve responsabilidade nem participação em
ações de repressão ilegal em nenhum momento de sua extensa
vida militar".
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