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DIPLOMACIA
Medida coroa três anos de diplomacia e, para Washington, serve de sinal positivo a regimes do Irã e da Coréia do Norte
EUA restabelecem relações com a Líbia
DA REDAÇÃO
Os EUA anunciaram ontem
que vão restabelecer totalmente
os laços diplomáticos com a Líbia,
no que aparenta ser um sinal para
que outros países vistos como
ameaça pelos EUA -casos do Irã
e da Coréia do Norte- sigam os
passos do regime comandado por
Muammar Gaddafi e abram mão
de seus supostos programas de
armas de destruição em massa.
Washington mantinha relações
tensas com a Líbia desde que sua
embaixada em Trípoli foi atacada
e incendiada em 1979. O regime
também foi retirado da lista de Estados que patrocinam o terrorismo mantida pelo Departamento
de Estado americano.
"Tomamos essas medidas em
reconhecimento ao compromisso
perene da Líbia com a renúncia ao
terrorismo", declarou a Secretária
de Estado americana, Condoleezza Rice, em um comunicado no
qual classifica a colaboração líbia
com a guerra ao terrorismo como
"excelente". Deixando entrever o
objetivo de Washington, Rice citou a Líbia como "modelo importante diante da pressão da comunidade internacional por mudanças no comportamento dos regimes do Irã e da Coréia do Norte".
O chanceler líbio, Abdurrahman Shalgham, afirmou que o
anúncio não surpreendeu o país e
enfatizou a existência de interesses políticos compartilhados entre Trípoli e Washington. "Em
política, não há "recompensa" e
sim interesses", declarou. "O
anúncio resulta de contatos e negociações. Não é unilateral. É resultado de interesses mútuos,
acordos e entendimentos."
A Líbia é um país rico em petróleo -produz cerca de 1,6 milhão
de barris diários e está entre os
dez maiores da Opep (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo). Retomar o comércio
com o país ofereceria aos EUA
uma alternativa para a importação de petróleo em um momento
em que suas relações com outros
grandes produtores, como o Irã e
a Venezuela, estão abaladas e em
que a situação no Iraque é extremamente instável.
Relações conturbadas
O anúncio de ontem coroa um
processo iniciado em dezembro
de 2003, quando Gaddafi surpreendeu ao concordar em desativar seu programa de armas de
destruição em massa, revelando a
existência de mísseis e projetos
nucleares. A contrapartida, no
ano seguinte, foi o fim de um embargo comercial imposto pelos
EUA em 1986.
"Como resultado direto dessas
decisões, assistimos ao início da
re-emergência do país ao seio da
comunidade internacional. O dia
de hoje marca uma nova era nas
relações entre os EUA e a Líbia,
que beneficiará tanto líbios quanto americanos", disse Rice.
Os laços entre os dois países têm
um histórico turbulento. Além do
ataque à embaixada em 1979, a Líbia foi considerada responsável
pelo atentado contra o vôo 103 da
Pan Am que explodiu em 1988 sobre a cidade escocesa de Lockerbie, matando 270 pessoas, sobretudo americanos.
Trípoli também é constantemente citada entre os regimes que
não respeitam os direitos humanos, e Gaddafi já chegou a seu conhecido nos EUA como o homem
mais perigoso do Oriente Médio.
Em 1981, o então presidente Ronald Reagan ordenou ataques ao
país. Em 1986, voltou a fazê-lo em
reação à suspeita de que o regime
teria patrocinado um atentado
terrorista contra uma danceteria
em Berlim freqüentada por militares dos EUA que culminou na
morte de dois americanos.
A decisão de retirar Trípoli da
lista de governos que os EUA
vêem como patrocinadores do
terrorismo levará 45 dias, contados a partir de ontem, pra entrar
em vigor. E, como primeiro passo
para o restabelecimento dos laços, a embaixada americana no
país será reaberta.
Um porta-voz da oposição líbia
fora do país referiu-se à decisão
americana como "infeliz". "Isso
não ajuda o povo líbio, que espera
assistência internacional para obter direitos humanos", disse Fayez Jitheir, do Congresso Nacional Líbio.
"Gaddafi certamente usará isso
para fechar o cerco sobre os líbios
que aspiram a coisas tão simples
como a liberdade de expressão ou
de ter uma Constituição", disse Jibril, que vive no Egito.
Com agências internacionais
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