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Hizbollah e governo aceitam dialogar
Negociação foi mediada pela Liga Árabe e suspende confrontos que deixaram mais de 80 mortos no Líbano em uma semana
Conflitos foram os piores
desde o fim da guerra civil;
antagonistas debaterão em
Qatar divisão do poder e lei
eleitoral, razões de impasse
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
A pior crise no Líbano desde
a guerra civil (1975-1990) deu
ontem uma trégua à diplomacia, com um acordo mediado
pela Liga Árabe que prevê a retomada do diálogo entre as facções em confronto -o governo,
apoiado pelos EUA, e o grupo
radical xiita Hizbollah, que tem
patrocínio iraniano. Os confrontos, que duraram uma semana e deixaram mais de 80
mortos, não se repetiram ontem, e o aeroporto e o porto de
Beirute foram reabertos.
A reportagem da Folha estava num dos primeiros vôos que
receberam autorização para
pousar no aeroporto internacional de Beirute, que nos últimos dias esteve fechado e com
os acessos bloqueados pelos
militantes do Hizbollah. Nas
proximidades do terminal, escavadeiras eram monitoradas
pelo Exército enquanto retiravam os montes de terra e pedra
que bloqueavam as estradas.
Nas ruas de Beirute ainda há
densa presença do Exército libanês, que procurou se manter
neutro diante dos confrontos,
mas posicionou tropas em pontos estratégicos do país para
evitar o alastramento da violência e possíveis conseqüências à população civil. A crise
afugentou os estrangeiros, e a
maioria dos hotéis está vazia.
As Forças Armadas assumiram a segurança da capital, depois que o governo do primeiro-ministro Fuad Siniora, sunita, revogou as decisões que haviam deflagrado a crise -a
proibição do sistema de comunicações do Hizbollah e a demissão do chefe de segurança
do aeroporto, que seria simpatizante do grupo xiita.
Ante o avanço do Hizbollah,
que chegou a ocupar parte de
Beirute, o governo foi obrigado
a recuar, dando aos xiitas uma
importante vitória, mas afastando o risco de guerra civil
-ao menos temporariamente.
Impasse
O acordo anunciado pelos
mediadores da Liga Árabe, após
dois dias de negociações, é mais
uma tentativa de resolver um
impasse político entre governo
e oposição que já dura 18 meses.
Segundo o premiê de Qatar,
Hamad bin Jassim bin Jabr al
Thani, que chefiou o time, governistas e opositores "prometeram evitar a voltar ao uso de
armas e de violência para obter
ganhos políticos". Ficou acertado que as partes em conflito
voltarão à mesa de negociação a
partir de hoje, em Qatar.
"Não há vencedores", disse
Al Thani. "Precisamos ajudar o
Líbano a solucionar essa crise e
continuaremos a pressionar."
Pouco após o anúncio do acordo, a oposição liderada pelo
Hizbollah confirmou o fim de
sua campanha de desobediência civil e autorizou a retirada
das barricadas de Beirute.
As negociações em Qatar
tentarão chegar a uma fórmula
para a divisão do poder no gabinete, no qual o Hizbollah e seus
aliados pedem maior participação, e a uma nova lei eleitoral,
que permite ampliar a representatividade dos xiitas e que
deve levar à eleição do chefe do
Exército, Michel Suleiman, como presidente. A disputa paralisa o governo desde novembro,
quando Emile Lahoud, um ex-comandante militar pró-Síria,
deixou o cargo. Desde então,
governo e oposição vivem um
impasse sobre o sucessor.
O vôo RJ 407, da Royal Jordanian, que partiu de Amã às
21h50 (15h50 de Brasília), foi o
terceiro a pousar em Beirute
após a reabertura do aeroporto.
O avião da Embraer, modelo
195, tinha apenas 44 de seus
100 assentos ocupados.
Em um deles estava o libanês
Emil Abiaad, 26, gerente de um
restaurante em Amã. Ele havia
comprado a passagem para a
última segunda, mas teve que
adiar o retorno a seu país por
causa da crise. "É bom saber
que chegaram a um acordo e
que a violência foi suspensa",
disse. "Mas, no Líbano, a tranqüilidade nunca dura muito."
No centro de Beirute, tanques e blindados do Exército
patrulham as ruas, enquanto o
comércio e os hotéis contabilizam as perdas. O ministro do
Turismo, Joe Sarkis, calculou
nesta semana em US$ 600 milhões o prejuízo causado pela
crise. Segundo a gerência do
hotel Crowne Plaza, um dos
muitos do bairro de Hamra, no
centro, a ocupação caiu de 92%,
antes dos confrontos, para 10%.
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