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Político, papa atenua tensão com islã
Na despedida do giro pelo Oriente Médio, Bento 16 volta a defender Estado palestino ante premiê israelense
Papa, que teve controvérsia com muçulmanos, prega diálogo inter-religiões e vai a mesquita; balanço com judeus foi menos favorável
STEPHANIE LE BARS
DO "MONDE"
Três destinos sensíveis, quatro assuntos de peso. Em pouco
mais de uma semana e em quase 30 discursos na Jordânia, em
Israel e nos territórios palestinos ocupados, o papa Bento 16
tem razões para estar satisfeito.
O pontífice mostrou domínio
sobre os aspectos geopolíticos
da situação regional mesmo
que, no curso da viagem encerrada ontem, não tenha conseguido evitar todos os tropeços,
previsíveis num lugar onde religião e política se entrelaçam.
Bento 16 falou em temas políticos e defendeu o diálogo entre
as religiões e as culturas.
A agenda era ambiciosa, e o
contexto, desfavorável. Bento
16 tinha por objetivo promover
o diálogo inter-religioso com os
muçulmanos e também com os
judeus; defender a paz entre Israel e os territórios palestinos e
a criação de um Estado palestino; e oferecer conforto às comunidades cristãs da região
-esse o ponto mais débil, com
o evidente encolhimento da comunidade local cristã em ambiente cada vez mais tenso.
Foi quanto ao relacionamento entre israelenses e palestinos que o papa, em geral pouco
dado a pronunciamentos políticos, surpreendeu. A viagem,
feita apenas quatro meses depois da ofensiva israelense na
faixa de Gaza e algumas semanas após a eleição de um governo israelense linha-dura, parecia uma caminhada por um
campo minado.
Os palestinos temiam que a
viagem se tornasse um selo de
aprovação à política israelense,
mas isso não ocorreu. Bento 16
invocou a "segurança de Israel"
e atacou o "terrorismo", mas
mostrou compreensão pela situação palestina. Ontem, no
discurso de despedida, em Tel
Aviv, voltou a apelar pela criação de um Estado palestino ao
lado do presidente de Israel,
Shimon Peres, e do premiê linha-dura, Binyamin Netanyahu, resistente à proposta.
Deixando de lado a espinhosa questão da cidade de Jerusalém, a qual definiu como "cidade da paz e lar espiritual dos judeus, cristãos e muçulmanos",
o papa citou quase tudo que
seus anfitriões na Cisjordânia
queriam: a situação em Gaza, o
muro de proteção israelense, os
refugiados, o acesso a lugares
sacros, os presos políticos.
Numa outra frente -o diálogo entre islã e cristianismo-,
passos importantes foram dados. O tema tornou-se uma meta séria para o papa depois de
um discurso em Regensburg
(Alemanha), em 2006, que os
muçulmanos interpretaram
como crítica ao islã, e foi a ela
que ele se dedicou em sua passagem pela Jordânia e em sua
visita a Jerusalém.
A despeito das tentativas de
exploração política por parte de
dirigentes muçulmanos, a visita do papa ao Domo da Rocha, a
mais importante mesquita de
Jerusalém, foi um sinal da confiança que parece existir entre
ao menos uma parte das elites
muçulmanas e o Vaticano.
Holocausto
Já no que tange à imagem do
papa na sociedade israelense, o
balanço foi menos positivo para Bento 16, que tentava superar a tensão provocada pela
suspensão da excomunhão do
bispo Richard Williamson, que
nega o Holocausto.
Para alguns rabinos israelenses, o discurso que ele fez no
Museu do Holocausto não pregou de forma suficiente o papel
da Igreja na difusão do antissemitismo. Outros o acusaram de
omitir sua experiência na Alemanha nazista na juventude.
Na despedida ontem, ele voltou ao tema. Chamou o Holocausto de "um capítulo chocante da História", que não deve
ser "esquecido ou negado". Recordou encontro com sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia,
há três anos.
A viagem mostrou que o diálogo inter-religioso, quer bilateral, quer trilateral, não está
maduro, apesar da vontade
compartilhada de promovê-lo.
Ainda que não represente
um debate teológico, parece
uma evolução sensível da parte
de um papa que, no início de
seu pontificado, decidiu eliminar da hierarquia do Vaticano o
departamento de promoção de
diálogos inter-religiosos, restabelecido justamente após a
controvérsia provocada pelo
discurso de Regensburg.
Com agências internacionais
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