São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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ISRAEL

Procurador diz que não há base para condenação; decisão pode facilitar saída de Gaza com entrada de trabalhistas no governo

Sharon escapa de processo de corrupção

DA REDAÇÃO

O procurador-geral de Israel arquivou ontem um processo de corrupção contra Ariel Sharon, pondo fim a meses de incerteza quanto ao futuro político do premiê e fortalecendo as perspectivas da entrada da oposição trabalhista no governo e de uma retirada da faixa de Gaza em 2005.
O procurador-geral Meni Mazuz disse que não vai indiciar Sharon por aceitação de propina porque as evidências existentes "nem sequer chegam perto" de ser suficientes para uma condenação.
A decisão abre caminho para Sharon buscar uma aproximação com o oposicionista Partido Trabalhista, que tinha dito que consideraria a possibilidade de juntar-se ao governo apenas se o premiê fosse inocentado das alegações de corrupção. Sharon precisa do Partido Trabalhista para voltar a ter maioria no Parlamento, perdida em conseqüência da saída dos membros radicais do gabinete que se opunham à proposta de retirada unilateral de Gaza.
Sharon quer retirar até o fim de 2005 os soldados e assentamentos israelenses de Gaza, ocupada após a guerra de 1967. Os trabalhistas apóiam o plano, que só começaria a ser implementado em nove meses. O líder trabalhista, Shimon Peres, declarou que até agora seu partido não foi convidado a iniciar conversações formais sobre sua entrada no governo. Peres indicou que a resposta trabalhista será clara: "O partido leva em conta só uma consideração: o que promoverá a paz, o que pode acelerar a retirada de Gaza".
Sharon e o Partido Trabalhista se uniram durante o primeiro mandato de Sharon como primeiro-ministro, entre 2001 e 2003, mas o governo se dividiu em relação à questão do financiamento dos assentamentos. Receosos após essa experiência, muitos políticos trabalhistas são contrários à idéia de refazer a aliança, dando preferência à opção de derrubar o governo Sharon e forçar novas eleições. Mas Peres, 80, o estadista mais respeitado do partido, parece estar decidido a conduzir seu partido de volta à coalizão, na qual poderia esperar um cargo importante como o de chanceler.
Se Mazuz tivesse decidido indiciá-lo, o premiê provavelmente teria sido obrigado a renunciar. O caso de corrupção envolvia suspeitas de que o empresário israelense David Appel teria pago a Gilad Sharon, filho do premiê, centenas de milhares de dólares para ajudar a implementar um negócio imobiliário na Grécia, num momento em que Sharon era chanceler, em 1999. O projeto acabou fracassando. Sharon nega a acusação. Mazuz também arquivou o processo contra Gilad. Appel foi indiciado por supostamente pagar propinas, mas, pelas leis israelenses, os promotores precisam provar que o destinatário de uma propina tinha conhecimento de que se tratava de crime.
Críticos indagaram como um sócio em negócios pôde ser indiciado por ter pago propina a Sharon e como a promotora pôde ter recomendado o indiciamento do premiê. Mas o procurador-geral não teve uma única palavra desfavorável a dizer sobre Sharon.
O comentarista legal da rádio Israel, Moshe Negbi, se mostrou incrédulo. ""Uma pessoa que hoje é juíza da Suprema Corte", disse ele, referindo-se à então promotora Edna Arbel, "decidiu indiciar o primeiro-ministro sem dispor de provas que sequer se aproximassem de uma chance razoável de condenação?" O partido oposicionista Yahad disse que vai recorrer à Suprema Corte contra a decisão de ontem.
Enquanto isso, autoridades disseram que Israel estuda a possibilidade de construir até 2.000 novas unidades habitacionais em assentamentos da Cisjordânia, ao mesmo tempo em que se retira. O ministro da Defesa, Shaul Mofaz, reuniu-se anteontem com líderes dos colonos e disse que analisará seu pedido de autorização para a construção de novas residências.


Com agências internacionais


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