São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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Zarqawi via guerra de EUA e Irã, diz Bagdá

Autoridades citam documentos segundo os quais terrorista queria mudar foco dos EUA; soldados americanos mortos somam 2.500

Premiê iraquiano anuncia que pode conceder anistia a insurgentes que tiverem matado somente militares dos EUA e não iraquianos


DA REDAÇÃO

O braço iraquiano da rede terrorista Al Qaeda planejou alimentar as hostilidades entre os EUA e o Irã a ponto de fazê-las culminar numa guerra, segundo documentos supostamente achados por autoridades iraquianas no esconderijo do líder do grupo, Abu Musab al Zarqawi, morto na semana passada pelas forças dos EUA.
Os documentos, descritos pelas autoridades do país como "um grande tesouro", detalham a estratégia política da rede e sua cooperação com grupos leais ao ex-ditador Saddam Hussein, além de sinalizar o enfraquecimento da insurgência.
Os textos foram traduzidos e divulgados pelo conselheiro de Segurança Nacional iraquiano, Mouwafak al Rubaie. A autenticidade das informações atribuídas à Al Qaeda não pôde ser confirmada.
Segundo o porta-voz militar americano, general William Caldwell, os documentos foram achados em uma operação que durou três semanas, anterior à morte de Al Zarqawi.
"Pudemos verificar que essa informação realmente veio de algum tipo de arquivo de computador que estava em um local seguro", disse Caldwell.
De acordo com o governo do premiê Nuri al Maliki, os documentos diziam que Zarqawi planejava destruir a relação entre os EUA e seus aliados árabe-xiitas no Iraque.
A linguagem usada difere, porém, da empregada pela Al Qaeda em seus comunicados na internet: não se refere aos americanos como "cruzados", por exemplo. "O tempo está começando a jogar a favor das forças americanas e a prejudicar a insurgência", diz o texto.
"Em termos gerais e apesar da situação atual sombria, achamos que a melhor solução para sair dessa crise é tentar envolver as forças americanas em uma guerra com outro país ou outros grupos hostis", afirma, segundo Bagdá. "Pensamos especificadamente tentar fazer escalar a tensão entre a América e o Irã, e entre americanos e xiitas no Iraque."
"Agora estamos em vantagem", disse Rubaie, que qualificou a descoberta como "o início do fim da Al Qaeda no Iraque". "Sentimos que sabemos, pelos documentos que encontramos nos últimos dias, seu paradeiro, os nomes de seus líderes e seus movimentos."
Segundo o "Washington Post", o premiê Maliki propôs uma anistia limitada para tentar pôr fim à insurgência árabe-sunita como parte de um plano de reconciliação nacional a ser divulgado nos próximos dias.
O plano, disse o premiê, deve incluir o perdão àqueles que atacaram apenas tropas americanas e "que não estiveram envolvidos no derramamento de sangue iraquiano".
"Inclui ainda conversas com homens armados que se opunham ao processo político e agora querem retornar à atividade política", disse Maliki anteontem em Bagdá.
O Exército dos EUA informou que foram realizadas 452 operações desde a morte de Al Zarqawi, em 7 de julho, e que 104 insurgentes foram mortos.

2.500 soldados mortos
O saldo de soldados americanos mortos desde o início da Guerra do Iraque, há três anos, atingiu a marca dos 2.500, afirmou ontem o Pentágono.
O anúncio foi feito dois dias depois que o presidente George W. Bush fez uma visita-surpresa ao Iraque, na tentativa de recuperar o apoio da população americana à guerra.
"É um número", disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow. "É sempre um marco triste, e uma das coisas que o presidente tem dito é que essas pessoas não morrerão em vão."
No mesmo dia, o Senado rejeitou um pedido para retirar as forças dos EUA do Iraque até o fim do ano. Pela medida, rejeitada por 93 votos a 6, seriam mantidos no país apenas as tropas consideradas cruciais para apoiar as forças iraquianas.
O Senado também aprovou uma provisão orçamentária de cerca de US$ 66 bilhões para as forças militares no Iraque e no Afeganistão.


Com agências internacionais

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