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Repressão a protesto deixa um morto no Irã
Teerã tem maior manifestação contra governo desde Revolução Islâmica de 1979; líder supremo aceita investigação sobre eleição
Denúncia de fraude em pleito vai ser examinada por Conselho de Guardiães, mas oposição não acredita que resultado vá ser alterado
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
Paramilitares iranianos mataram ontem uma pessoa e deixaram vários feridos graves ao
final da maior manifestação até
aqui da oposição contra o resultado da eleição presidencial de
sexta-feira.
O candidato oposicionista
Mir Hossein Mousavi pediu
durante o protesto que seja feita uma nova eleição, em vez da
recontagem simples dos votos.
A oposição diz que a reeleição
do presidente Mahmoud Ahmadinejad, com 62,7% dos votos, foi fraudulenta.
A violência aconteceu ao final de uma marcha até então
calma e silenciosa que lotou os
cinco quilômetros que ligam as
praças da Revolução e da Liberdade, em Teerã -no que foi
considerada a maior manifestação contra o governo em 30
anos do regime dos aiatolás,
reunindo centenas de milhares
de pessoas.
Horas antes, o aiatolá Ali
Khamenei, líder supremo político e religioso do país, voltou
atrás e ordenou uma investigação para apurar as denúncias
de fraude. No sábado, Khamenei disse que a eleição foi limpa
e pediu que todos apoiassem o
presidente reeleito.
Os reformistas aliados a
Mousavi veem com desconfiança o fato de o governo ter
divulgado a vitória de Ahmadinejad apenas duas horas depois
do fechamento das urnas -um
processo que costuma levar de
dois a três dias no país.
A partir da vitória, houve um
blecaute informativo. Mensagens de texto por celulares foram bloqueadas, assim como
diversos sites da internet. Universidades e escolas foram fechadas.
Khamenei pediu que Mousavi usasse apenas "vias legais"
para protestar contra o resultado. A manifestação de ontem
foi proibida pelo Ministério do
Interior, mas a presença policial foi discreta, e os incidentes
só ocorreram no final da noite.
Pelo menos 200 oposicionistas foram presos na noite de sábado, mas alguns deles, como o
irmão do ex-presidente Mohammad Khatami, foram soltos ontem.
Violência na universidade
Na noite anterior, 200 milicianos islâmicos invadiram a
Universidade de Teerã, onde
2.000 estudantes se manifestavam e agrediram os estudantes.
Houve invasão no dormitório
do campus, à 1h30 da manhã,
quando universitários foram
agredidos a porretes pelos milicianos.
Na manhã de ontem, a mulher de Mousavi, Zahra Rahnavard, que participou ativamente da campanha do marido, esteve na mesma universidade.
Foi a primeira aparição dela
desde sexta-feira. Em um discurso para centenas de estudantes, ela pediu que os estudantes "continuassem nas
ruas, protestando pacificamente, silenciosamente, pelas mudanças".
No domingo, Mousavi pediu
formalmente a anulação do
pleito ao Conselho de Guardiães, principal instância jurídica do país.
O aiatolá Khamenei assegurou ao opositor que o conselho
examinará "cuidadosamente" a
queixa sobre fraude.
Metade do Conselho de
Guardiães, integrado por seis
clérigos e seis civis, é, no entanto, nomeada diretamente por
Khamenei, o que provoca o ceticismo da oposição. Mousavi
se declarou ontem pouco esperançoso de que a investigação
resulte em anulação da eleição.
O chefe do Conselho de
Guardiães, o aiatolá Ahmad
Jannati, declarou que logo haverá um pronunciamento sobre o pedido de Mousavi.
"Espero que, primeiro, Deus,
depois o nosso líder supremo [o
aiatolá Khamenei], e depois o
povo fiquem satisfeitos", disse
Jannati na TV estatal.
O governo iraniano advertiu
ontem a todos os jornalistas enviados pela imprensa internacional para cobrir as eleições
que não serão renovados os vistos. Até domingo, havia 650
jornalistas estrangeiros em
Teerã, mas acredita-se que
quase a totalidade deles tenha
que deixar o país no próximo
fim de semana.
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