São Paulo, terça-feira, 16 de junho de 2009

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Repressão a protesto deixa um morto no Irã

Teerã tem maior manifestação contra governo desde Revolução Islâmica de 1979; líder supremo aceita investigação sobre eleição

Denúncia de fraude em pleito vai ser examinada por Conselho de Guardiães, mas oposição não acredita que resultado vá ser alterado


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ

Paramilitares iranianos mataram ontem uma pessoa e deixaram vários feridos graves ao final da maior manifestação até aqui da oposição contra o resultado da eleição presidencial de sexta-feira.
O candidato oposicionista Mir Hossein Mousavi pediu durante o protesto que seja feita uma nova eleição, em vez da recontagem simples dos votos. A oposição diz que a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, com 62,7% dos votos, foi fraudulenta.
A violência aconteceu ao final de uma marcha até então calma e silenciosa que lotou os cinco quilômetros que ligam as praças da Revolução e da Liberdade, em Teerã -no que foi considerada a maior manifestação contra o governo em 30 anos do regime dos aiatolás, reunindo centenas de milhares de pessoas.
Horas antes, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo político e religioso do país, voltou atrás e ordenou uma investigação para apurar as denúncias de fraude. No sábado, Khamenei disse que a eleição foi limpa e pediu que todos apoiassem o presidente reeleito.
Os reformistas aliados a Mousavi veem com desconfiança o fato de o governo ter divulgado a vitória de Ahmadinejad apenas duas horas depois do fechamento das urnas -um processo que costuma levar de dois a três dias no país.
A partir da vitória, houve um blecaute informativo. Mensagens de texto por celulares foram bloqueadas, assim como diversos sites da internet. Universidades e escolas foram fechadas.
Khamenei pediu que Mousavi usasse apenas "vias legais" para protestar contra o resultado. A manifestação de ontem foi proibida pelo Ministério do Interior, mas a presença policial foi discreta, e os incidentes só ocorreram no final da noite.
Pelo menos 200 oposicionistas foram presos na noite de sábado, mas alguns deles, como o irmão do ex-presidente Mohammad Khatami, foram soltos ontem.

Violência na universidade
Na noite anterior, 200 milicianos islâmicos invadiram a Universidade de Teerã, onde 2.000 estudantes se manifestavam e agrediram os estudantes. Houve invasão no dormitório do campus, à 1h30 da manhã, quando universitários foram agredidos a porretes pelos milicianos.
Na manhã de ontem, a mulher de Mousavi, Zahra Rahnavard, que participou ativamente da campanha do marido, esteve na mesma universidade.
Foi a primeira aparição dela desde sexta-feira. Em um discurso para centenas de estudantes, ela pediu que os estudantes "continuassem nas ruas, protestando pacificamente, silenciosamente, pelas mudanças".
No domingo, Mousavi pediu formalmente a anulação do pleito ao Conselho de Guardiães, principal instância jurídica do país.
O aiatolá Khamenei assegurou ao opositor que o conselho examinará "cuidadosamente" a queixa sobre fraude.
Metade do Conselho de Guardiães, integrado por seis clérigos e seis civis, é, no entanto, nomeada diretamente por Khamenei, o que provoca o ceticismo da oposição. Mousavi se declarou ontem pouco esperançoso de que a investigação resulte em anulação da eleição.
O chefe do Conselho de Guardiães, o aiatolá Ahmad Jannati, declarou que logo haverá um pronunciamento sobre o pedido de Mousavi.
"Espero que, primeiro, Deus, depois o nosso líder supremo [o aiatolá Khamenei], e depois o povo fiquem satisfeitos", disse Jannati na TV estatal.
O governo iraniano advertiu ontem a todos os jornalistas enviados pela imprensa internacional para cobrir as eleições que não serão renovados os vistos. Até domingo, havia 650 jornalistas estrangeiros em Teerã, mas acredita-se que quase a totalidade deles tenha que deixar o país no próximo fim de semana.


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