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ANÁLISE
Protestos podem ser princípio de contrarrevolução
GIDEON RACHMAN
DO "FINANCIAL TIMES"
Trinta anos após a Revolução
Islâmica, podemos estar assistindo a uma contrarrevolução
iraniana? No curto prazo, os
acontecimentos recentes no
Irã são deprimentes e alarmantes -uma eleição roubada, violência nas ruas, repressão. No
longo prazo, há evidências animadoras de que o Irã não precisa ser imune à onda de democratização que varre o mundo
desde o final dos anos 1970.
Há, é claro, quem pense que o
presidente Mahmoud Ahmadinejad possa de fato ter vencido
a eleição. O argumento é que
jornalistas ocidentais e iranianos de classe média teriam se
enganado por focar demais na
opinião pública na capital e entre a elite instruída. O Irã talvez
seja como a Tailândia -país
que passou por turbulência política recentemente porque o
voto da classe média urbana regularmente perde para o dos
pobres da zona rural.
Esses argumentos não convencem. A eleição iraniana traz
todas as marcas típicas de uma
eleição roubada. A contagem
oficial indica que Ahmadinejad
venceu até mesmo na cidade
natal de seu principal rival, Mir
Hossein Mousavi, e atribui
63% dos votos ao presidente,
uma porcentagem que foge totalmente da maioria das previsões traçadas antes da eleição.
Dizia-se que o Irã era um raro exemplo de semidemocracia
no Oriente Médio. Mas a eleição de sexta arrancou o véu democrático do país. O regime
iraniano vem reagindo aos protestos populares com todos os
instintos de uma ditadura.
Alguns pragmáticos conservadores argumentam que é um
erro tentar promover a democracia no Oriente Médio, em
vista da probabilidade de islâmicos subirem ao poder e imporem regimes fechados. A piada que se faz é que seria "um
homem, um voto, uma vez".
A melhor resposta sempre foi que
o islã deve perder seu poder de
atração popular quando se permitir que fundamentalistas governem -e se mostrem incompetentes, opressores e corruptos. Esse ciclo está acontecendo
agora no Irã.
Enquanto isso, como o mundo externo deve reagir? Uma
intervenção desajeitada do
Ocidente seria um erro. O regime iraniano tem três fontes
possíveis de legitimidade: o
apoio popular, o êxito econômico ou uma ameaça externa.
A economia vai mal, e a eleição roubada jogou por terra a
ideia de que o governo possua
apoio popular amplo. Resta só a
possibilidade de o regime utilizar a ameaça de intervenção externa para obter apoio patriótico e reprimir a oposição com
ainda mais força.
As revoluções democráticas,
na maioria dos casos, são movidas sobretudo pelo "poder popular" no próprio país -geralmente seguido pela perda de
confiança ou divisões internas
no regime governante. É possível que isso aconteça no Irã.
É possível que o país tenha
uma "revolução verde" (cor dos
partidários de Mousavi) bem-sucedida, comparável às revoluções Laranja e Rosa na Ucrânia e na Geórgia. Mas a verdade
deprimente é que tudo o que o
mundo externo pode fazer, por
enquanto, é oferecer apoio retórico aos democratas iranianos, observar, torcer e esperar.
Tradução de CLARA ALLAIN
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