São Paulo, terça-feira, 16 de junho de 2009

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Líder supremo iraniano dá apoio a presidente para reforçar teocracia

Behrouz Meri/France Presse
Mir Hossein Mousavi ergue os braçõs entre multidão em Teerã

DO ENVIADO A TEERÃ

Com ou sem fraude, o apoio fiel do líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, ao presidente Mahmoud Ahmadinejad se revelou a grande aliança desta eleição.
Segundo vários analistas ouvidos pela Folha, que pediram anonimato pelo clima de caça aos opositores vivido em Teerã, Khamenei, 69, vê qualquer tipo de abertura -seja na política externa ou nos costumes internos- como ameaça à própria teocracia que lidera desde 1989, quando substituiu o fundador da República Islâmica do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989).
Com um presidente carismático nos EUA como Barack Obama propondo diálogo com o Irã, uma juventude cada vez mais ocidentalizada nos hábitos e uma liderança religiosa envelhecida, Khamenei acha que os reformistas, representados pelo candidato à Presidência Mir Hossein Mousavi, podem acabar com a coesão da República Islâmica.
Ao manifestar seu ódio pelos Estados Unidos e por Israel, que alimenta o sentimento de injustiça e vitimização muçulmano contra potências coloniais ocidentais, Ahmadinejad se credenciaria para manter a influência ocidental mais longe do Irã.
Além da lealdade ao aiatolá, Ahmadinejad é um presidente mais jovem, populista e carismático, profundamente religioso e conservador. Por isso Khamenei teria se apressado a legitimar a vitória de Ahmadinejad, quando a apuração ainda estava no começo.
Com isso, fragiliza três líderes reformistas de uma vez: o candidato derrotado Mousavi, o ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005) e seu principal adversário interno, o aiatolá e também ex-presidente Aqbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997), líder da Revolução que poderia concorrer para se tornar líder supremo.
Rafsanjani comanda atualmente a Assembleia dos Especialistas, único organismo com poder para destituir o líder supremo. Durante a campanha, pressionou Khamenei para que repreendesse Ahmadinejad por acusá-lo de supostos atos de corrupção durante o período em que foi presidente.

Endurecimento do regime
Ao se fixar no programa nuclear e nas diatribes com o Ocidente, Ahmadinejad desvia a atenção da crise econômica atual -23,6% de inflação, quase 20% de desemprego- e a incompetência econômica crônica da Revolução.
Em 30 anos, nenhuma refinaria foi construída. Dono das segundas maiores reservas de gás e petróleo do mundo, o Irã precisa importar gasolina.
"Ahmadinejad viajou às cidades pequenas, distribuiu comida e dinheiro vivo para os mais pobres em comícios, enquanto muitos aiatolás perderam contato com as massas", disse à Folha o analista político Sharif Emamjomeh, colunista de vários jornais locais.
"Quando acusou o aiatolá Rafsanjani de corrupção nos debates pela TV, foi uma forte cartada para os iranianos, que odeiam a corrupção, e um agrado aos adversários deste", diz.
Se a análise é correta, pode representar um endurecimento ainda maior do regime.
A advogada Nasrin Sotodeh, que participou da campanha do opositor Mousavi e é especialista em direitos humanos, concorda com essa visão.
"Parece que estamos vivendo um golpe militar, com mais repressão e tiros que nos últimos anos, nunca tivemos uma situação parecida", diz.
"Se a batalha sobre o resultado da eleição for perdida, acho que mais e mais jovens ficarão céticos sobre o desejo do regime de se abrir e seguirão o caminho de outros 5 milhões de iranianos, deixar o país." (RJL)


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