São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

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Bush e Putin na abertura do G8

Para presidente dos EUA, Hizbollah tem de "abaixar as armas"; líder russo pede que Israel dê resposta "balanceada"

Os dois líderes chegaram a um acordo de cooperação para conter a proliferação nuclear e o terrorismo; Lula se reúne com Bush amanhã

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PETERSBURGO

Os presidentes dos EUA, George W. Bush, e da Rússia, Vladimir Putin, pediram ontem, na abertura da cúpula do G8, em São Petersburgo, o fim da violência no Oriente Médio.
Mas enquanto Bush responsabilizou diretamente o Hizbollah pela onda de violência, Putin disse que Israel deveria dar uma reposta "mais balanceada" aos ataques da organização.
Putin também colocou Bush em situação de constrangimento ao rebater comentários do norte-americano sobre a situação da democracia na Rússia.
Ao responder a pergunta de um jornalista sobre o assunto, Bush disse que expressou a Putin seu desejo de "promover mudanças institucionais em partes do mundo, como no Iraque, onde há liberdade de imprensa e religião". "Em nosso país, muitos gostariam que o mesmo ocorresse na Rússia."
A reposta de Putin foi direta: "Para ser bem honesto, nós certamente não queremos ter o mesmo tipo de democracia que eles têm no Iraque", afirmou, provocando risos na entrevista.
Putin e Bush se reuniram em um palácio perto de São Petersburgo e às margens do golfo da Finlândia, onde acontece a reunião do G8. Apesar das discordâncias, o clima entre os dois, que se trataram pelo primeiro nome várias vezes, foi cordial.
Além da discussão sobre o Oriente Médio, os dois líderes chegaram a um acordo de cooperação para tentar conter a proliferação nuclear e o terrorismo. Não foram apresentados detalhes das iniciativas.
EUA e Rússia têm hoje visões diferentes, de maior e menor radicalismo, respectivamente, nas negociações sobre como pressionar o Irã e a Coréia do Norte a se submeterem a um maior controle de seus programas nucleares.
Putin chegou a afirmar que, embora a intenção da Rússia seja a de "construir um mundo mais seguro", o país "não participará de nenhuma cruzada, de nenhuma aliança sagrada".
Bush não respondeu aos comentários. Apenas disse que conversou com Putin, no caso do Irã, para tentarem desenvolver alguma estratégia de pressão a partir da ONU. Na entrevista, Putin chegou a chamar o Irã de "parceiro".
Sobre a escalada de violência no Oriente Médio, Bush disse que começou "porque o Hizbollah vem lançando foguetes contra Israel e porque capturou dois soldados israelenses".
"A melhor maneira de acabar com a violência é o Hizbollah abaixar suas armas", disse Bush, exortando ainda a Síria a "parar de exercer influência" sobre o grupo.
Apesar de considerar "as preocupações de Israel justificadas", Putin afirmou que "o uso da força deve ser balanceado". "A escalada da violência não levará a nenhum resultado positivo."

Agenda
A partir de hoje, estão previstos encontros com os demais membros do grupo (Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Japão) e com líderes de países em desenvolvimento convidados (Brasil, China, Índia, África do Sul, México e Congo -pelos africanos).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem no final da tarde à Rússia. Ele terá encontros com representantes dos emergentes hoje e com Bush amanhã. A prioridade na agenda é tentar melhorar duas ofertas feitas por EUA e União Européia nas atuais negociações em curso na OMC (Organização Mundial do Comércio).
"Trabalhamos para que haja um acordo entre os líderes. Se isso ocorrer, o passo seguinte seria tentar marcar uma reunião em Genebra [sede da OMC] para que isso possa avançar", disse o chanceler Celso Amorim.


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