São Paulo, segunda-feira, 16 de julho de 2007

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Atentados matam 70 e põem Paquistão à beira da guerra

Vítimas eram na maioria militares; atentados demonstram força dos islâmicos que se vingam de chacina em mesquita

Repressão contra radicais também leva líderes tribais a romperem trégua de dez meses com a ditadura de Musharraf, aliada aos EUA

Mohammad Zubair/Associated Press
Paquistanesas reagem a ataque em Matta (norte); tensão sobe


DA REDAÇÃO

Em esperado recrudescimento da violência, cerca de 70 pessoas morreram no fim de semana no Paquistão, em atentados de militantes islâmicos próximos à Al Qaeda, que procuram se vingar da ditadura de Pervez Musharraf. Seu Exército matou na semana passada 102 pessoas (segundo dado oficial; o número real pode ser bem maior) na Mesquita Vermelha, em Islamabad.
Esse embrião de guerra civil foi também estimulado pela ruptura da trégua de dez meses, observada pelos líderes tribais que controlam a região fronteiriça com o Afeganistão, anunciou Abdullah Farhad, porta-voz dos extremistas.
A região abriga bases do Taleban, grupo deposto no final de 2001 pelos Estados Unidos e que ressurge como poderosa guerrilha contra os militares estrangeiros no Afeganistão.
Os incidentes mais violentos ocorreram, sábado, no Wazirinstão do Norte, quando um suicida matou 24 militares e feriu outros 30. Ontem, 14 militares foram mortos por uma bomba no distrito de Swat, e 18 morreram com a explosão de um posto de recrutamento na cidade de Dera Ismail Khan.
Essa sucessão de episódios tende a dividir o Paquistão entre islâmicos moderados, que apóiam ou fazem oposição ao ditador, e islâmicos radicais, entrincheirados em mesquitas de cidades ou nas montanhas em que supostamente se esconde Osama bin Laden.

Apoio dos EUA
Musharraf não consegue unir seu país em razão da forte ligação que mantém com os Estados Unidos, que o consideram uma peça-chave na guerra contra o terrorismo. Ainda ontem o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Stephen Hadley, elogiou a ruptura com os chefes tribais, pois "o acordo não funcionou".
Reiterou que Washington continua a apoiar o regime paquistanês, mas criticou indiretamente Musharraf por não ter conseguido neutralizar o Taleban, atuante em seu território.
Musharraf não poderá mobilizar as Forças Armadas em bloco contra os líderes tribais, porque os soldados e a oficialidade são muitas vezes simpáticos aos integristas, favoráveis à implantação no país de um regime de intolerância religiosa.
Embora tenha reiteradamente negado, Musharraf também poderá decretar o estado de emergência e cancelar as eleições presidenciais previstas para o segundo semestre.
Já na semana passada o governo reforçou seus contingentes na fronteira com o Afeganistão, temendo que edifícios públicos sofressem ataques maciços em represália às vítimas da Mesquita Vermelha.
Além de militares, disse uma testemunha, havia vítimas civis nos atentados do fim de semana. Seus corpos foram retirados antes que as TVs fossem autorizadas a registrar as cenas.
Na região fronteiriça emerge ainda a liderança do clérigo Maulana Fazlullah, próximo da Al Qaeda e que anunciou, sábado, entrar na clandestinidade para não ser preso. Antes, apelou pela "guerra santa" contra o ditador aliado aos EUA.


Com agências internacionais


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