|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Igreja pagará US$ 660 mi a vítimas de abuso
Valor estipulado em acordo é o mais alto em um caso do tipo nos EUA e será desembolsado por arquidiocese de Los Angeles
Indenização engloba mais de 500 vítimas afetadas dos anos 40 aos 90; entidades comemoram, e arcebispo vêm a público se desculpar
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Os advogados de mais de 500
pessoas que se dizem vítimas
de abusos sexuais cometidos
por padres e religiosos católicos no Estado da Califórnia
anunciaram, na noite de sábado, ter feito um acordo de US$
660 milhões (R$ 1,227 bilhão)
com a Arquidiocese de Los Angeles para encerrar os processos movidos contra ela.
"Tudo foi resolvido", afirmou
Raymond Boucher, advogado
de 242 vítimas. "Estou feliz que
tenha acabado", comentou o
advogado da igreja, Michael
Hennigan. Se aprovado pela
Justiça, será o maior valor pago
por uma diocese desde que veio
à tona nos EUA pela primeira
vez um escândalo de pedofilia,
em Boston, em 2002.
O arcebispo de Los Angeles,
Roger Mahony, foi a público
desculpar-se: "Mais uma vez,
eu peço perdão a todos que foram ofendidos, abusados. Nunca deveria ter acontecido, e não
vai acontecer novamente".
Hoje, começa o primeiro julgamento relativo ao caso, e
mais de uma dúzia estão marcados para os próximos seis
meses. Tratam de acusações
contra o padre Clinton Hagenbach, morto em 1987. O acerto
divulgado evita que Mahony
seja chamado a depor e explicar
se a igreja tinha conhecimento
dos abusos -cometidos entre
as décadas de 40 e 90-, porém
exige que documentos e arquivos sejam revelados.
Muitos dos padres são acusados por diversas vítimas, pois
eram transferidos de paróquia
pelos seus superiores ao surgirem acusações. Tratamento
psicológico era recomendado,
pois acreditava-se que os religiosos pudessem se recuperar.
Prejuízo
A grande maioria dos processos referentes a acusações de
abuso sexual acabou em acordos, os quais já custaram à Igreja Católica mais de US$ 1,5 bilhão nos EUA. Os montantes
devem ser desembolsado pelas
próprias dioceses, sem a ajuda
do Vaticano.
Desde 2002, mais de mil pessoas deram entrada em processos contra a Igreja Católica por
abusos sexuais na Califórnia e,
nos últimos anos, a arquidiocese de Los Angeles já pagou US$
114 milhões a 86 vítimas. Segundo o cardeal Mahony, agora
será preciso vender propriedades para conseguir bancar o
acordo -e o valor poderia ser
ainda maior se os processos
fossem até o fim.
Cada vítima contemplada
pelo acerto deve receber mais
de US$ 1 milhão, mas discute-se o quanto o dinheiro vai reparar o sofrimento dos que, quando criança, sofreram abusos.
"Realmente, não há como voltar atrás e devolver a inocência
que lhes foi roubada", lamentou Mahony, acrescentando
que, nos últimos meses, encontrou-se com muitas vítimas, o
que o ajudou a compreender a
importância de dar uma solução rápida aos processos.
"Entendemos que há pessoas
necessitando desesperadamente de cuidados médicos, terapia", disse Mary Grant, uma
das vítimas na Califórnia e diretora regional da Rede de Sobreviventes aos Abusos de Padres. "Elas podem não ter condições de enfrentar um julgamento. Mas, por outro lado, há
muitos que realmente gostariam de ter seu dia no tribunal."
Para o presidente da organização, David Clohessy, os sobreviventes que conseguiram
acordo devem se sentir orgulhosos. "Sem a sua coragem, dezenas de predadores ainda não
seriam conhecidos e talvez estivessem em paróquias hoje."
Texto Anterior: Contrato bélico: Israel venderá US$ 2,5 bi em armas à Índia Próximo Texto: Indenizações Índice
|