São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Kirchner e campo apelam a Senado

Rivais na disputa que levou ao locaute reúnem milhares em Buenos Aires antes de voto sobre imposto

Senadores chegam hoje divididos à votação; marido de Cristina liga ruralistas à repressão da ditadura e vê sua vitória como garantida

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Buenos Aires se transformou ontem em um campo de batalha entre o setor ruralista e o governo, com a realização de dois grandes atos à véspera da votação no Senado do projeto de lei que determina o aumento de impostos sobre as exportações de grãos e que desatou o conflito entre os dois lados há quatro meses.
Enquanto os líderes ruralistas centraram seus discursos em convencer os senadores a votar contra o projeto do governo, o ex-presidente Néstor Kirchner, que liderou o ato oficialista, preferiu voltar as armas ao campo e dar a vitória no Congresso por garantida.
O presidente das Confederações Agrárias Argentinas, Mario Llambías, pediu que os senadores "ponham ovos [tenham culhões] e votem a favor do povo". Já o presidente da Federação Agrária de Entre Ríos, Alfredo de Angeli, disse que os legisladores têm a responsabilidade de unir o povo e que os que votarem com o governo perderão sua liberdade.
"Vão perder a liberdade, não sei o que vão dizer ao povo ou como vão voltar a suas Províncias", afirmou De Angeli.
O presidente da Federação Agrária Argentina, Eduardo Buzzi, preferiu apontar as contradições do governo, que costuma atacar os grandes produtores de soja. "Como se pode falar em nome do povo quando oferecem as terras das Forças Armadas aos "pools" de plantação e azeiteiras amigas?", questionou Buzzi.
Do outro lado, Kirchner, hoje presidente do Partido Justicialista (peronista), relacionou os ruralistas à repressão da ditadura. "Como nas piores etapas de 1955 e de 1976 (golpes militares), saem como comandos civis e grupos de tarefas para agredir a quem não pensa como eles de forma vergonhosa", disse o ex-presidente. Em nome da mulher e atual presidente, Cristina Kirchner, defendeu o aumento de impostos, mas afirmou que é o Congresso quem terá a decisão final.
"Não viemos pressionar ninguém. Respeitamos a decisão do Congresso seja qual for", afirmou, diante das acusações de que o governo faria pressão e teria comprado o voto de legisladores a favor da lei. Não deixou, porém, de pedir apoio: "ajudem Cristina como ajudaram a mim".
Ao menos nos números, os líderes agropecuários venceram a batalha de ontem. Segundo estimativas extra-oficiais, o evento ruralista reuniu 225 mil pessoas no Monumento aos Espanhóis, com a maciça presença de agricultores do interior, de movimentos sociais, da classe média da capital e de líderes da oposição. Com líderes e militantes peronistas e simpatizantes do governo, o ato oficialista teria reunido 95 mil pessoas em frente ao Congresso.

Votação
O alvo dos dois atos de ontem eram os senadores argentinos, que votam hoje o projeto de lei sobre o aumento de impostos nas exportações de grãos.
Ontem à noite, imprensa e os dois lados da disputa contavam que as intenções de votos estariam praticamente empatadas. Ainda há senadores indecisos.
Se o projeto do governo for aprovado, os líderes ruralistas afirmaram que vão recorrer à Justiça como última opção. Caso seja rejeitado, há quatro projetos alternativos, que poderiam ser discutidos pela Casa.
Se houver um empate, a decisão cabe ao vice-presidente, Julio Cobos, também presidente do Senado, que entrou em confronto com o governo ao convocar ruralistas e governadores opositores para discutir o tema. A posição de Cobos na questão ainda é desconhecida.
A sessão em que o projeto foi aprovado na Câmara de Deputados durou 19 horas.


Texto Anterior: Direitos Humanos: Presidente indonésio lamenta abusos contra Timor Leste
Próximo Texto: Rice telefona a Amorim para explicar Quarta Frota
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.