São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2010

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Ex-prisioneiros cubanos criticam Lula

Dissidentes dizem que líder brasileiro tenta capitalizar com a libertação por Havana e o chamam de populista

Recém-saído de greve de fome, Guillermo Fariñas chama Lula de "mal-agradecido"; Planalto não comenta

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

O sentimento de "alegria" e "felicidade" expressado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o anúncio da liberação de 52 presos cubanos pelo governo de Raúl Castro não bastou para abrandar as críticas dos dissidentes ao brasileiro.
Ontem, foi alvo de duras críticas dos cubanos enviados à Espanha e do jornalista Guillermo Fariñas, que interrompeu uma greve de fome de mais de quatro meses pela liberação dos presos.
"O Lula é um mal-agradecido. Esqueceu-se de sua essência humana. Sorte para o povo brasileiro que já não pode mais ser eleito", disse Fariñas à Folha, por telefone.
Em Madri, seus compatriotas chamaram o presidente de populista e afirmaram que ele podia ter salvado a vida do preso político Orlando Zapata, que morreu por greve de fome no dia em que Lula visitava Cuba.
"Só que o Lula se aliou ao crime e não à justiça", declarou o dissidente cubano Omar Rodríguez.
As críticas, feitas ontem em entrevista coletiva dos ex-presos com jornalistas de todo o mundo, em Madri, minou as possibilidades de o governo brasileiro capitalizar com o caso.
Na semana passada, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) e o assessor da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, insinuaram que houve interferência da diplomacia brasileira no acordo entre os governos cubano e espanhol e a igreja para liberar os presos. Mas o próprio Lula afirmou que desconhecia as negociações.

ELEIÇÕES
Os EUA, por outro lado, foram informados da intenção de liberação de dissidentes antes de Cuba e Espanha baterem o martelo, segundo disse ontem o "El País".
No caso do Brasil, era uma tentativa de reafirmar o papel de negociador global de Lula para ganhar votos nas próximas eleições, afirmou o dissidente Julio Rodríguez.
"Isso mostra que Lula adotou um discurso populista para dar continuidade ao seu partido no poder", disse. "Pessoalmente, admiro Lula e sua trajetória. Mas foi infeliz na comparação com os detentos de São Paulo e nos deve desculpas", disse o dissidente Pablo Pacheco.
Com os dois cubanos que chegaram ontem a Madri -Mijail Bárzaga e Luis Milán-, já são 11 os dissidentes na capital. Hoje é esperada a chegada de outros dois.

OUTRO LADO
Ouvido pela Folha, o Palácio do Planalto afirmou que não irá se manifestar sobre as declarações dos ex-presos.


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