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Ex-prisioneiros cubanos criticam Lula
Dissidentes dizem que líder brasileiro tenta capitalizar com a libertação por Havana e o chamam de populista
Recém-saído de greve de fome, Guillermo Fariñas chama Lula de "mal-agradecido"; Planalto não comenta
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE MADRI
O sentimento de "alegria"
e "felicidade" expressado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o anúncio da
liberação de 52 presos cubanos pelo governo de Raúl
Castro não bastou para
abrandar as críticas dos dissidentes ao brasileiro.
Ontem, foi alvo de duras
críticas dos cubanos enviados à Espanha e do jornalista
Guillermo Fariñas, que interrompeu uma greve de fome
de mais de quatro meses pela
liberação dos presos.
"O Lula é um mal-agradecido. Esqueceu-se de sua essência humana. Sorte para o
povo brasileiro que já não pode mais ser eleito", disse Fariñas à Folha, por telefone.
Em Madri, seus compatriotas chamaram o presidente
de populista e afirmaram que
ele podia ter salvado a vida
do preso político Orlando Zapata, que morreu por greve
de fome no dia em que Lula
visitava Cuba.
"Só que o Lula se aliou ao
crime e não à justiça", declarou o dissidente cubano
Omar Rodríguez.
As críticas, feitas ontem
em entrevista coletiva dos ex-presos com jornalistas de todo o mundo, em Madri, minou as possibilidades de o governo brasileiro capitalizar com o caso.
Na semana passada, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) e o assessor
da Presidência para assuntos
internacionais, Marco Aurélio Garcia, insinuaram que
houve interferência da diplomacia brasileira no acordo
entre os governos cubano e
espanhol e a igreja para liberar os presos. Mas o próprio
Lula afirmou que desconhecia as negociações.
ELEIÇÕES
Os EUA, por outro lado, foram informados da intenção
de liberação de dissidentes
antes de Cuba e Espanha baterem o martelo, segundo
disse ontem o "El País".
No caso do Brasil, era uma
tentativa de reafirmar o papel de negociador global de
Lula para ganhar votos nas
próximas eleições, afirmou o
dissidente Julio Rodríguez.
"Isso mostra que Lula adotou um discurso populista
para dar continuidade ao seu
partido no poder", disse.
"Pessoalmente, admiro Lula
e sua trajetória. Mas foi infeliz na comparação com os detentos de São Paulo e nos deve desculpas", disse o dissidente Pablo Pacheco.
Com os dois cubanos que
chegaram ontem a Madri
-Mijail Bárzaga e Luis Milán-, já são 11 os dissidentes
na capital. Hoje é esperada a
chegada de outros dois.
OUTRO LADO
Ouvido pela Folha, o Palácio do Planalto afirmou que
não irá se manifestar sobre as
declarações dos ex-presos.
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