São Paulo, quarta-feira, 16 de agosto de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Israel apressa retirada de seus soldados do Líbano

País quer retirar militares em dez dias, antes de envio de força internacional

Ditador sírio diz que Israel foi "ridicularizado" por Hizbollah; ministro da Defesa israelense defende negociações com Damasco


Joseph Barrak/France Presse
Libaneses voltam para casa a pé, no que já foi a rodovia de Masnaa, destruída por bombardeio


MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TEL AVIV

O Exército de Israel começou a retirar ontem parte dos 30 mil soldados estacionados no sul do Líbano, no segundo dia de cessar-fogo após mais de um mês de conflito com o grupo terrorista Hizbollah.
Os militares israelenses querem remover a maior parte das tropas em dez dias, mesmo antes do envio de tropas internacionais, e manter apenas uma pequena faixa de segurança na fronteira. Eles temem ficar e tornarem-se alvos de ataques em meio aos civis que estão voltando para as aldeias da região.
O Líbano pretende deslocar 15.000 soldados para o norte do Rio Litani, a 30 km da fronteira, ainda nesta semana. Mas eles só vão entrar no sul do país depois da retirada israelense. O reforço das tropas da ONU na região, previsto na resolução aprovada na sexta-feira, deve demorar "semanas ou meses", de acordo com o secretário-geral, Kofi Annan.
Israel triplicou o número de soldados no sul do Líbano nos dois últimos dias de conflito e afirma ter dado um "duro golpe" na capacidade militar do Hizbollah. Mas, em parte do mundo árabe, o fato de Israel não ter conseguido impedir os disparos de foguetes e mísseis foi percebido como vitória da organização xiita.

Síria aplaude Hizbollah
Em Damasco, o ditador sírio, Bashar Assad, disse que as "conquistas do Hizbollah" criaram uma nova realidade no Oriente Médio. A Síria manteve soldados no Líbano de 1976 ao ano passado, quando foi obrigada a retirá-los depois do assassinato do premiê Hafik Hariri, contrário à presença síria. Segundo Israel, a Síria forneceu mísseis e foguetes para o Hizbollah, além de armas antitanque de fabricação russa.
"Na perspectiva militar, a batalha foi decidida em favor da resistência. Israel foi derrotada desde o início. Os israelenses foram ridicularizados", disse Assad em encontro da associação de jornalistas da Síria.
Segundo o ditador, "as futuras gerações no mundo árabe vão encontrar a maneira de derrotar Israel. A resistência é tão necessária quanto legítima e natural". Assad disse também que o plano dos EUA para um "novo Oriente Médio" fracassou. "Este governo (dos EUA) adora o princípio de guerra preventiva, o que é contraditório com o princípio da paz. Consequentemente, não esperamos a paz em breve, nem no futuro próximo."
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que defende a destruição de Israel, disse que o Hizbollah venceu o conflito por "promessa de Deus". O Irã voltou a ameaçar Israel com mísseis de longo alcance caso seja atacado.
Depois do discurso de Assad, o ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, cancelou a visita programada a Damasco: "A Síria pode recobrar a confiança da comunidade internacional com ação construtiva. O discurso de hoje vai na direção oposta".
Apesar da retórica dura de Assad, o ministro da Defesa israelense, Amir Peretz, afirmou ainda ser possível retomar as negociações com a Síria, interrompidas há seis anos, sobre a devolução das colinas de Golã, ocupadas por Israel desde 1967.
"Todas as guerras criam uma oportunidade para um novo processo político. Tenho certeza que nossos inimigos entendem que não podem nos derrotar pela força. Precisamos manter diálogo com o Líbano e devemos criar condições para um diálogo também com a Síria."

Debate interno
Em Israel, a percepção de fracasso militar provoca disputas políticas e militares, apesar do apoio popular à ofensiva. Alguns oficiais e deputados pedem a renúncia do chefe do Estado Maior, Dan Halutz - afetado ontem por uma denúncia.
A imprensa israelense divulgou que Halutz vendeu ações no valor de US$ 25 mil horas depois do seqüestro dos dois soldados pelo Hizbollah, em 12 de julho, ação que desencadeou o conflito no qual morreram 806 libaneses e 157 israelenses.
As autoridades estão debatendo se Halutz aproveitou-se de informação privilegiada para vender as ações antes do início da guerra. A Bolsa de Valores de Tel Aviv caiu mais de 8% nos dois primeiros dias de conflito. Halutz negou irregularidades: "Naquele momento eu não sabia e não esperava uma guerra".
A trégua iniciada há dois dias está sendo mantida, mas com incidentes. Ontem, os israelenses mataram cinco guerrilheiros, segundo o Exército. Os soldados têm ordem para atirar se houver perigo iminente. Durante a noite, o Hizbollah disparou morteiros contra posições israelenses. Israel afirmou que matou, pouco antes do cessar-fogo, Sajed Dawayer, que seria o chefe de forças especiais do Hizbollah na aldeia de Bin Jbeil. O grupo, que admite 70 baixas, e não as 500 anunciadas por Israel, não confirmou a morte.


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