São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2007

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entrevista

Segundo analista, estratégia é diluir impacto negativo

DE CARACAS

A estratégia de Hugo Chávez é apresentar a reforma como um "pacote" para diluir o impacto de pontos rejeitados pela população e promover uma campanha em torno de sua popularidade, avalia Luis Vicente León, diretor do Datanálisis, o principal instituto de pesquisa de opinião da Venezuela. Para ele, hoje o presidente venceria o referendo consultivo. Leia, a seguir, a entrevista concedida ontem à Folha, horas antes do início da apresentação de Chávez à Assembléia. (FM)

 

FOLHA - As pesquisas mostram rejeição a pontos como a reeleição indefinida. Qual será a estratégia de Chávez para aprovar sua reforma constituinte?
LUIS VICENTE LEÓN -
Está claro que estratégia do governo é apresentar a reforma como um pacote integral, e não em várias partes, já que alguns pontos são populares e outros não. O que vamos ver é uma grande quantidade de ofertas populares dentro da reforma. A população está majoritariamente contra a proposta de reeleição, mas não é, de nenhuma maneira, que esteja contra o presidente Chávez. Por isso, ele vai levar o debate em torno do chavismo, e não da reforma constitucional: a campanha vai girar em torno de se a população apóia Chávez ou não, se respalda a revolução ou não.

FOLHA - Quais são os principais pontos populares e impopulares da proposta?
LEÓN -
A parte impopular é a reeleição indefinida e qualquer coisa que possa afetar a propriedade privada. As populares: dar um status constitucional às missões, a criação do Poder Popular no mesmo nível do Executivo e do Legislativo. As pessoas se encantam com o tema da integração, ainda que na prática não signifique nada. Mas o mais importante são as missões. Recordemos que são o principal protetor dos mais pobres. Ao oferecer que essa proteção se converta em direito adquirido pela Constituição, [o governo] faz as pessoas sentirem que vale a pena diante de qualquer concessão paralela mais abstrata no plano político.

FOLHA - Chávez venceria se o referendo fosse hoje?
LEÓN -
As nossas últimas pesquisas mostram que, quando você pergunta sobre pontos específicos, como a reeleição indefinida ou mudanças na propriedade privada, eles são majoritariamente rejeitados. Mas, quando perguntamos sobre a reforma toda proposta pelo presidente, ela é majoritariamente aprovada. E, como essa votação será geral, hoje a reforma seria aprovada.

FOLHA - E a oposição?
LEÓN -
Se a oposição entrar nesse jogo de centrar os ataques em Chávez, provavelmente vai errar, porque é justamente o que o presidente quer. A oposição pode também se dividir entre os que pedirão aos eleitores que votem e os que propõem a abstenção, acreditando que vale a pena desacreditar o processo eleitoral. E, nessa perspectiva de divisão, os resultados são previsíveis.


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