São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2007

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EUA incluirão guarda do Irã na lista do terror

Medida contra força oficial de um país soberano é inédita; Guarda Revolucionária é protetora da república islâmica

Para Teerã, a notícia é parte da "propaganda anti-Irã" de Washington; corporação é acusada de fornecer armas a insurgentes no Iraque

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Os Estados Unidos se preparam para classificar a Guarda Revolucionária do Irã como um grupo terrorista, informaram ontem funcionários do governo americano citados pelos principais jornais locais. Se efetuada, a ação representará a primeira vez na história que uma força militar oficial de um país soberano é considerada terrorista pelos EUA.
"Atacar a Guarda Revolucionária é atacar a essência do Irã", afirmou à Folha Bruce Riedel, especialista do Centro Saban para o Oriente Médio do Instituto Brookings, nos EUA. "A guarda é a protetora da república islâmica, é um dos órgãos mais poderosos do governo e é particularmente próxima a [o presidente iraniano] Mahmoud Ahmadinejad -que é ele próprio um veterano."
Criada em 1979 para proteger a Revolução Islâmica, a Guarda Revolucionária é composta por mais de 120 mil homens (estimativa do Centro de Estudos Estratégicos de Washington). Apesar de ligado ao Ministério da Defesa desde 1989, o corpo obedece diretamente ao líder supremo do Irã -hoje o aiatolá Ali Khamenei- e existe como força separada do Exército.
Os EUA acusam o Irã -e em particular a guarda- de apoiar grupos incluídos na lista de organizações terroristas mantida pelo Departamento de Estado, como o Hizbollah, no Líbano. Com o aumento, a partir do ano passado, do número de soldados americanos mortos no Iraque, a guarda também passou a ser acusada de fornecer explosivos a grupos iraquianos.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack, negou-se a comentar as informações divulgadas na imprensa ontem, mas disse que Washington está "confrontando o comportamento do Irã em vários campos de batalha diferentes".
A possível ação chegaria em meio a uma escalada da pressão dos EUA contra o Irã. Em janeiro último, cinco iranianos foram detidos por americanos no Iraque, acusados de apoiar insurgentes. O Irã afirma que eles eram diplomatas.
A resposta do Irã à nova medida, até o momento, foi limitada. "Essa notícia faz parte da propaganda anti-Irã do governo americano", afirmou um oficial do Ministério das Relações Exteriores iraniano, citado pela agência oficial Irna.

Sanções
A classificação da Guarda Revolucionária como terrorista permitiria o congelamento de bens e fundos controlados por membros da instituição em bancos dos EUA. Alguns oficiais sêniores da guarda já são considerados terroristas pelos EUA e sofrem sanções individuais. O Tesouro americano também impede que bancos do país negociem com bancos e empresas iranianas -como parte das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU por causa do programa iraniano de enriquecimento de urânio.
Outra possível conseqüência seria o aumento da pressão sobre os demais membros do CS por novas sanções contra o Irã. Riedel, porém, é cético com relação à resposta internacional. "O confronto entre EUA e Irã será significativamente aquecido. Mas o governo americano tem que ser muito persuasivo com a China e a Rússia para que a ONU aprove qualquer nova medida."
Chamar a guarda de terrorista também não será suficiente para apaziguar os setores mais conservadores em Washington, segundo o especialista. "O que eu acho mais provável é que o Irã dê uma resposta agressiva."


Com o "New York Times" e agências internacionais


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