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EUA incluirão guarda do Irã na lista do terror
Medida contra força oficial de um país soberano é inédita; Guarda Revolucionária é protetora da república islâmica
Para Teerã, a notícia é parte da "propaganda anti-Irã" de Washington; corporação é acusada de fornecer armas
a insurgentes no Iraque
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Os Estados Unidos se preparam para classificar a Guarda
Revolucionária do Irã como um
grupo terrorista, informaram
ontem funcionários do governo
americano citados pelos principais jornais locais. Se efetuada,
a ação representará a primeira
vez na história que uma força
militar oficial de um país soberano é considerada terrorista
pelos EUA.
"Atacar a Guarda Revolucionária é atacar a essência do
Irã", afirmou à Folha Bruce
Riedel, especialista do Centro
Saban para o Oriente Médio do
Instituto Brookings, nos EUA.
"A guarda é a protetora da república islâmica, é um dos órgãos mais poderosos do governo e é particularmente próxima a [o presidente iraniano]
Mahmoud Ahmadinejad -que
é ele próprio um veterano."
Criada em 1979 para proteger a Revolução Islâmica, a
Guarda Revolucionária é composta por mais de 120 mil homens (estimativa do Centro de
Estudos Estratégicos de Washington). Apesar de ligado ao
Ministério da Defesa desde
1989, o corpo obedece diretamente ao líder supremo do Irã
-hoje o aiatolá Ali Khamenei-
e existe como força separada
do Exército.
Os EUA acusam o Irã -e em
particular a guarda- de apoiar
grupos incluídos na lista de organizações terroristas mantida
pelo Departamento de Estado,
como o Hizbollah, no Líbano.
Com o aumento, a partir do
ano passado, do número de soldados americanos mortos no
Iraque, a guarda também passou a ser acusada de fornecer
explosivos a grupos iraquianos.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean
McCormack, negou-se a comentar as informações divulgadas na imprensa ontem, mas
disse que Washington está
"confrontando o comportamento do Irã em vários campos
de batalha diferentes".
A possível ação chegaria em
meio a uma escalada da pressão dos EUA contra o Irã. Em
janeiro último, cinco iranianos
foram detidos por americanos
no Iraque, acusados de apoiar
insurgentes. O Irã afirma que
eles eram diplomatas.
A resposta do Irã à nova medida, até o momento, foi limitada. "Essa notícia faz parte da
propaganda anti-Irã do governo americano", afirmou um
oficial do Ministério das Relações Exteriores iraniano, citado pela agência oficial Irna.
Sanções
A classificação da Guarda Revolucionária como terrorista
permitiria o congelamento de
bens e fundos controlados por
membros da instituição em
bancos dos EUA. Alguns oficiais sêniores da guarda já são
considerados terroristas pelos
EUA e sofrem sanções individuais. O Tesouro americano
também impede que bancos do
país negociem com bancos e
empresas iranianas -como
parte das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da
ONU por causa do programa
iraniano de enriquecimento de
urânio.
Outra possível conseqüência
seria o aumento da pressão sobre os demais membros do CS
por novas sanções contra o Irã.
Riedel, porém, é cético com relação à resposta internacional.
"O confronto entre EUA e Irã
será significativamente aquecido. Mas o governo americano
tem que ser muito persuasivo
com a China e a Rússia para que
a ONU aprove qualquer nova
medida."
Chamar a guarda de terrorista também não será suficiente
para apaziguar os setores mais
conservadores em Washington, segundo o especialista. "O
que eu acho mais provável é
que o Irã dê uma resposta
agressiva."
Com o "New York Times" e agências internacionais
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