São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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Sob pressão, Geórgia assina cessar-fogo com a Rússia

Moscou diz que também assinará, mas como mediadora; Bush critica russos

Documento não menciona "integridade territorial" da Geórgia; Medvedev volta a defender a independência de territórios autonomistas

DA REDAÇÃO

O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, assinou ontem o acordo de cessar-fogo negociado terça-feira pela França, em nome da União Européia. A assinatura se deu em Tbilisi, após negociação de cinco horas com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
A entrevista de Rice e Saakashvili com os jornalistas sofreu atraso de três horas, num claro indício de que o dirigente georgiano hesitou ou tentou obter novas garantias que o texto não poderia lhe dar.
A secretária de Estado afirmou que o presidente Dmitri Medvedev assinaria em Moscou o mesmo documento, com o qual os dois países já haviam se comprometido na terça-feira, o que oficializaria o compromisso de a Rússia "se retirar imediatamente" da Geórgia.
Isso é só em parte verdade. O acordo dá ao Kremlin o direito de manter militares na Ossétia do Sul e na Abkházia, duas regiões separatistas georgianas que textos internacionais de 1992 praticamente definiram como protetorados russos.
A Geórgia também podia manter forças nesses dois territórios, mas perdeu o direito, segundo o acordo de cessar-fogo, depois do conflito que ela iniciou no último dia 7.

Assinatura russa
O governo georgiano, aliado dos EUA, saiu enfraquecido dos confrontos, em detrimento dos russos. O texto que Saakashvili assinou dá aos russos a possibilidade de patrulhar dentro da Geórgia, 10 km além da divisa da Abkházia e da Ossétia do Sul.
A porta-voz de Medvedev afirmou ontem à noite que as duas regiões autonomistas já haviam assinado o documento e que, após a assinatura de Saakashvili, Medvedev o faria, "mas como um mediador".
Ou seja, a Rússia não se vê como parte envolvida no conflito. É "mediadora", diz a porta-voz, "da mesma forma que a União Européia e a OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa)", organismo que desde 1992 supervisiona os dois territórios separatistas.
Em declarações ao lado de Saakashvili, Rice disse que o acordo "não é sobre o futuro da Abkházia ou da Ossétia do Sul", mas um texto "que obriga os russos a retirarem seus militares". Pouco depois, no entanto, reconheceu aos russos o direito à zona-tampão. Disse ser uma solução temporária, pois "em alguns dias" chegariam forças de paz da Europa.
Tal iniciativa, porém, dependeria de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, onde a Rússia tem poder de veto. Ontem, Medvedev disse que a presença de forças internacionais não seria aceita pelos moradores da Ossétia do Sul e da Abkházia, já que eles enxergam a Rússia como "a única capaz de garantir a estabilidade regional".
Saakashvili acusou os integrantes europeus da Otan, a aliança militar ocidental, de terem dado a senha para a operação militar russa contra seu país, ao vetarem, em abril, o ingresso formal da Geórgia.
Referia-se à França e à Alemanha, que argumentaram na conferência da Otan, em Bucareste, que a Geórgia, com problemas territoriais, exigiria a intervenção da aliança para ajudá-la em caso de conflito.
Em Washington, o presidente Bush voltou a criticar a Rússia em termos pesados. Afirmou que "ameaças e intimidações não são formas aceitáveis para a condução de políticas no século 21". Defendeu a "integridade territorial" da Geórgia.
A chanceler alemã, Angela Merkel, em visita à Rússia, onde foi recebida por Medvedev, afirmou também que "o ponto central para a solução política do conflito deve ser a integridade territorial da Geórgia".
Ocorre, diz a Reuters, que a questão da integridade, que estava na versão inicial da proposta de cessar-fogo da França, sumiu. Há menção a "independência e soberania" do país.

Independência
O presidente Medvedev sublinhou a impossibilidade de manter a integridade territorial do pequeno país vizinho. "Depois de tudo o que aconteceu, é pouco provável que os sul-ossetianos e a população da Abkházia possam conviver no mesmo Estado que os georgianos."
Ou seja, voltou a advogar a independência das duas regiões, com a automática desintegração territorial da Geórgia.


Com agências internacionais


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