São Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009

Próximo Texto | Índice

Taleban ataca Cabul a cinco dias das eleições

Atentado suicida em quartel-general da Otan mata ao menos sete pessoas; explosão é a pior na capital afegã em seis meses

Grupo ameaça pleito desta quinta, em que Afeganistão elegerá seu presidente, dois vices e ainda membros dos conselhos das Províncias

Nichole Sobecki/Getty Images
Carro arde após ser explodido por dois suicidas perto do quartel-general da Otan em Cabul; o Taleban assumiu responsabilidade

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A CABUL

A cinco dias da eleição afegã, um raro atentado suicida contra o quartel-general da Otan na região mais protegida de Cabul mostrou que o Taleban parece realmente disposto a atrapalhar o pleito. Pelo menos sete pessoas morreram, e cerca de cem ficaram feridas.
O atentado aconteceu às 8h35 (1h05 em Brasília), quando os funcionários civis da Isaf (Força Internacional de Segurança e Assistência, liderada pela aliança militar ocidental) chegavam para o trabalho e esperavam as checagens de praxe no portão principal.
Um carro com supostamente duas pessoas, segundo testemunhas, passou pela primeira das três barreiras que levam ao QG. Para passar, é preciso ter documentos válidos, como credencial de jornalista, e eventualmente ter o carro revistado.
Nada aconteceu, e no segundo bloqueio, a 30 metros do portão da Isaf, os soldados afegãos perceberam algo estranho com os ocupantes do carro. "Eles iam ser rendidos quando a bomba explodiu", afirmou à Folha o porta-voz da Isaf, general Eric Tremblay.
Não se sabe se há ocidentais feridos ou mortos. Tremblay disse que sim, mas não soube precisar. Todas as baixas computadas são, como costuma ocorrer nesses casos, civis. Além dos funcionários da Isaf, outros trabalhadores de órgãos na região passavam pela rua.

Explosão simbólica
Cabul é defendida por 30% das forças disponíveis no país e não registrava um atentado a bomba grande há seis meses. E nenhum em um local tão simbólico como o QG.
Segundo um porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, disse à agência Reuters, o objetivo era ainda mais ambicioso: a Embaixada dos EUA, que fica a uns 100 metros descendo aquela rua e virando à esquerda.
Toda a região, no sudoeste de Cabul, é considerada equivalente à Zona Verde de Bagdá: uma série de prédios protegidos com barreiras antibombas, embaixadas, bases militares, bunkers em que funcionam restaurantes e hospedarias para os funcionários de empresas ocidentais.
A Folha, que sentiu o atentado a menos de 2 km de distância do local, só conseguiu chegar à Isaf 40 minutos depois devido aos bloqueios de rua. Mesmo lá, os jornalistas não podiam chegar a menos de 100 metros do ponto de impacto.
Não só os jornalistas. O general Said Abdul Ghaffar Zadah, chefe de investigação da polícia de Cabul, foi barrado por um soldado italiano da Isaf no cordão de isolamento. "Queria ajudar e iniciar meu trabalho", resignou-se, num sinal claro de quem manda no Afeganistão.
Três grandes vans americanas se uniram aos blindados italianos e franceses que protegem o perímetro, e suas antenas bloqueiam o sinal de celular na região. Havia vidros quebrados pelo chão, de carros que estavam estacionados.
O prédio com mais janelas quebradas, numa certa ironia da história, é a sede da Fundação Massoud -que homenageia o maior líder mujahedin afegão, Ahmad Shah Massoud, inimigo mortal do Taleban que foi assassinado dois dias antes do 11 de Setembro.
O atentado ocorre justamente enquanto correm boatos de que o governo afegão negocia uma trégua com o Taleban. A polícia de Cabul disse mais tarde suspeitar de envolvimento da reda Al Qaeda. Mas o mais grave, falando em segurança, foi a facilidade com que os terroristas chegaram perto do coração militar ocidental em Cabul. Sobre isso, o general Tremblay tergiversou: "Vamos investigar o que aconteceu, mas é importante notar que eles não conseguiram chegar a nenhum objetivo, explodiram quando foram pegos", disse.
O presidente Hamid Karzai, que lidera a disputa pela reeleição, estava em Herat (oeste) em campanha. Segundo a última pesquisa disponível, ele tem 44% das intenções de voto, contra a surpresa do pleito, o seu ex-chanceler Abdullah Abdullah -que tem 26% e poderá levar a disputa para o segundo turno em outubro.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.