São Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pleito afegão terá reflexos em estratégia dos EUA para o país

Revisão do plano de atuação deve ser concluída, com atraso, nos próximos dias

Secretário da Defesa afirma que hoje é impossível prever por quanto tempo tropas americanas ainda terão de continuar no Afeganistão

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

A eleição para escolha do novo presidente do Afeganistão, na quinta, será crucial na revisão da estratégia de Washington no país. O pleito ocorre num momento de avanço das forças do Taleban, reconhecido por Stanley McChrystal, comandante dos EUA e das forças da Otan (aliança militar ocidental) na região.
McChrystal, cujos escritórios no Afeganistão ficam no quartel-general da Otan que ontem foi alvo de um atentado do Taleban, está prestes a entregar a revisão do plano de atuação dos EUA no país. A previsão era de liberação por volta do dia 15 deste mês, mas segundo o secretário da Defesa americana, Robert Gates, o texto só será avaliado entre as eleições e o início de setembro.
As principais preocupações agora se referem à realização das eleições de forma segura e aos efeitos políticos da escolha do novo presidente. Gates diz que, graças à atuação das forças aliadas, mais afegãos votarão.
Para Zalmay Khalilzad, ex-enviado especial americano a Cabul, a eleição pode desencadear uma série de conflitos étnicos no país, e alguns candidatos podem rejeitar o resultado.
O analista Bruce Riedel, do Instituto Brookings, crê que o renascimento do Taleban está ligado aos erros americanos, e não ao poder dos insurgentes.
"Se a Otan e as forças afegãs protegerem os eleitores da intimidação e os resultados forem considerados legítimos, será uma derrota para o Taleban."
Gates afirmou nesta semana que é impossível prever quanto tempo mais os EUA deverão permanecer no Afeganistão. "Esperamos progresso ao longo de um ano, com a estratégia do presidente Obama e do general McChrystal", disse. Obama decidiu em março mudar o foco principal da ação militar americana do Iraque para a fronteira entre Afeganistão e Paquistão.
Os dados do Centcom (comando central americano) evidenciam a escalada da presença do Taleban na região. Em 2003, ele estava ativo em 30 distritos do país. No ano passado, sua atuação chegava a 160 distritos. O número de ataques segue em alta: passou de 50 por semana em 2004 para 300 em 2008. Apenas na primeira semana de maio deste ano, foram registrados 400 ataques.

Mais tropas
Segundo McChrystal, a perspectiva é que o número de mortes de soldados continue em alta. Em julho, ao menos 41 soldados americanos morreram no Afeganistão, no mês mais sangrento do conflito.
Até o fim do ano, o número de soldados americanos no país chegará a 68 mil. McChrystal poderá solicitar ainda o aumento das tropas, mas o pedido só será analisado após o relatório de revisão da estratégia.
Na última sexta foi anunciada a criação de um posto de comando intermediário da Otan que será chefiado pelo general David Rodriguez, para supervisionar as operações do dia a dia.
Para Stephen Biddle, especialista do think tank Council on Foreign Relations, a vitória americana na região só será alcançada com a segurança na região e com uma melhora do governo afegão de modo a fazer o país avançar sozinho. "Podemos manter o paciente ligado aos aparelhos provendo assistência à segurança indefinidamente, mas se não houver uma melhora no governo, você nunca será capaz de tirar o paciente do respirador."


Texto Anterior: "A onda de ar passou pelo meu corpo"
Próximo Texto: Para mentor do Taleban, grupo "já ganhou"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.