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Pleito afegão terá reflexos em estratégia dos EUA para o país
Revisão do plano de atuação deve ser concluída, com atraso, nos próximos dias
Secretário da Defesa afirma que hoje é impossível prever
por quanto tempo tropas americanas ainda terão de continuar no Afeganistão
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
A eleição para escolha do novo presidente do Afeganistão,
na quinta, será crucial na revisão da estratégia de Washington no país. O pleito ocorre
num momento de avanço das
forças do Taleban, reconhecido
por Stanley McChrystal, comandante dos EUA e das forças
da Otan (aliança militar ocidental) na região.
McChrystal, cujos escritórios no Afeganistão ficam no
quartel-general da Otan que
ontem foi alvo de um atentado
do Taleban, está prestes a entregar a revisão do plano de
atuação dos EUA no país. A previsão era de liberação por volta
do dia 15 deste mês, mas segundo o secretário da Defesa americana, Robert Gates, o texto só
será avaliado entre as eleições e
o início de setembro.
As principais preocupações
agora se referem à realização
das eleições de forma segura e
aos efeitos políticos da escolha
do novo presidente. Gates diz
que, graças à atuação das forças
aliadas, mais afegãos votarão.
Para Zalmay Khalilzad, ex-enviado especial americano a
Cabul, a eleição pode desencadear uma série de conflitos étnicos no país, e alguns candidatos podem rejeitar o resultado.
O analista Bruce Riedel, do
Instituto Brookings, crê que o
renascimento do Taleban está
ligado aos erros americanos, e
não ao poder dos insurgentes.
"Se a Otan e as forças afegãs
protegerem os eleitores da intimidação e os resultados forem
considerados legítimos, será
uma derrota para o Taleban."
Gates afirmou nesta semana
que é impossível prever quanto
tempo mais os EUA deverão
permanecer no Afeganistão.
"Esperamos progresso ao longo
de um ano, com a estratégia do
presidente Obama e do general
McChrystal", disse. Obama decidiu em março mudar o foco
principal da ação militar americana do Iraque para a fronteira
entre Afeganistão e Paquistão.
Os dados do Centcom (comando central americano) evidenciam a escalada da presença
do Taleban na região. Em 2003,
ele estava ativo em 30 distritos
do país. No ano passado, sua
atuação chegava a 160 distritos.
O número de ataques segue em
alta: passou de 50 por semana
em 2004 para 300 em 2008.
Apenas na primeira semana de
maio deste ano, foram registrados 400 ataques.
Mais tropas
Segundo McChrystal, a perspectiva é que o número de mortes de soldados continue em alta. Em julho, ao menos 41 soldados americanos morreram
no Afeganistão, no mês mais
sangrento do conflito.
Até o fim do ano, o número
de soldados americanos no país
chegará a 68 mil. McChrystal
poderá solicitar ainda o aumento das tropas, mas o pedido
só será analisado após o relatório de revisão da estratégia.
Na última sexta foi anunciada a criação de um posto de comando intermediário da Otan
que será chefiado pelo general
David Rodriguez, para supervisionar as operações do dia a dia.
Para Stephen Biddle, especialista do think tank Council
on Foreign Relations, a vitória
americana na região só será alcançada com a segurança na região e com uma melhora do governo afegão de modo a fazer o
país avançar sozinho. "Podemos manter o paciente ligado
aos aparelhos provendo assistência à segurança indefinidamente, mas se não houver uma
melhora no governo, você nunca será capaz de tirar o paciente
do respirador."
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