São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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SUCESSÃO PARAGUAIA
Novo presidente pode tirar da prisão ainda hoje general da reserva que tentou golpe militar
Cubas toma posse à sombra de Oviedo

ELIANE CANTANHÊDE
enviada especial a Assunção

O novo presidente do Paraguai, Raúl Cubas Grau, assumiu o cargo ontem propondo uma agenda de Estado que priorize "a eliminação do narcotráfico, da pirataria e da apropriação intelectual indevida''.
Adversário de seu antecessor, Juan Carlos Wasmosy, apesar de serem do mesmo partido, Cubas recebeu o cargo sem se encontrar com o agora ex-presidente. Wasmosy entregou a faixa presidencial para o presidente do Congresso, que a entregou para Cubas.
Wasmosy convocou um tribunal militar extraordinário para condenar o general da reserva Lino Oviedo -o primeiro candidato do Partido Colorado. Ele é acusado de ter feito isso apenas para impedir a vitória eleitoral do adversário.
Ontem, do lado de fora do Banco Central, local da solenidade de posse, um pequeno grupo de manifestantes pedia a liberdade de Oviedo e queimava o boneco de Wasmosy.
Dentro do prédio, Wasmosy fazia um discurso emocionado, justificando que perdeu boa parte dos seus cinco anos de mandato convivendo com sucessivas crises políticas. A mais grave foi a tentativa de golpe de Estado liderada por Oviedo, o mais prestigiado chefe militar paraguaio.
"A minha família pode enfrentar a dor e a ingratidão. A vergonha, jamais'', disse o ex-presidente, que não se encontrou em momento algum com o sucessor.
Com a posse de Cubas Grau estão abertas as portas da prisão onde o general Oviedo está preso desde novembro. Ele pode sair da prisão ainda hoje, ficando em prisão domiciliar.
A oposição diz que Cubas será dependente de Oviedo, pois foi eleito graças ao apoio do general da reserva à sua candidatura.
Os ministros e chefes militares nomeados por Cubas são leais a Oviedo.
O novo presidente prometeu recuperar a credibilidade internacional do país e a credibilidade da população nos seus governantes, reformar o Estado e o sistema financeiro, priorizar a agricultura e as ações sociais e garantir justiça para todos.
A posse de Cubas foi presenciada por cinco presidentes latino-americanos, inclusive Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, que defendeu maiores investimentos no Paraguai.

Peru-Equador
Depois da posse, os presidentes do Peru, Alberto Fujimori, e do Equador, Jamil Mahuad, se encontraram num hotel de Assunção para discutir o acordo final para o litígio fronteiriço entre os dois países.
Após o encontro, Mahuad foi à Embaixada do Brasil em Assunção conversar com Fernando Henrique Cardoso.
O presidente equatoriano afirmou que ele e Fujimori se comprometeram a retirar as tropas dos dois países da área em disputa num prazo de até dez dias.



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