São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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GUERRA À VISTA

Assessora de segurança nacional diz que seguidores de Bin Laden foram vistos no Iraque; Bagdá nega ligação

EUA acusam Saddam de apoiar a Al Qaeda

DA REDAÇÃO

Os EUA aumentaram ontem o tom de suas ameaças contra o Iraque, afirmando que o regime do ditador Saddam Hussein possui vínculos com a rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden.
"O Iraque mantém claramente vínculos com o terrorismo, inclusive com a Al Qaeda", disse, em entrevista a uma de TV americana, Condoleezza Rice, assessora para assuntos de segurança nacional da Casa Branca. "Membros da Al Qaeda foram vistos em Bagdá", acrescentou.
O semanário britânico "Sunday Telegraph" afirmou que o dossiê contra o Iraque que o premiê Tony Blair -mais próximo aliado dos EUA na Europa- prometeu divulgar revelará que Saddam treinou alguns dos principais integrantes da rede de Bin Laden.
De acordo com o jornal, o documento mostrará que dois supostos líderes da Al Qaeda, Abu Zubair e Rafid Fatah, atuaram em operações contra os curdos no norte do Iraque e continuam até hoje ligados a Bagdá.
Embora Washington tenha se esforçado para encontrar uma conexão entre os atentados de 11 de setembro e o governo iraquiano, até agora não apresentou provas capazes de convencer a comunidade internacional. Bagdá nega o seu envolvimento com a Al Qaeda e com os ataques.
O presidente George W. Bush e os "falcões" de sua administração -como Rice e o vice-presidente Dick Cheney- tentam inserir os seus planos de invadir o Iraque para derrubar Saddam dentro do espectro da "guerra contra o terrorismo", lançada após os ataques do ano passado.
Porém, diante da falta de evidências ligando Saddam aos atentados, os EUA utilizam os programas iraquianos de armas de destruição em massa como principal justificativa para uma ofensiva.
Após a derrota do Iraque na Guerra do Golfo (1991), o Conselho de Segurança da ONU adotou resoluções determinando a eliminação das armas químicas, biológicas e nucleares de Saddam, monitorada por inspetores internacionais. Desde 1998, Bagdá se nega a autorizar o reinício das inspeções de seus arsenais.
É com base nisso que os EUA pressionam o Conselho de Segurança a aprovar resolução que autorizaria o uso da força contra Saddam caso não aceite o retorno incondicional dos inspetores.
No sábado, o vice-premiê iraquiano, Tariq Aziz, declarou que seu país só permitirá a volta dos inspetores se não houver ação militar dos EUA e se as sanções econômicas impostas após o Iraque ter invadido o Kuait, em 1990, forem suspensas.

"Tarde demais"
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse à rede CNN que é "tarde demais" para o Iraque negociar solução para a crise. "Se eles não possuem armas, o que estão escondendo?", indagou.
O chefe da diplomacia dos EUA afirmou que, se os inspetores voltarem ao Iraque, devem poder "ir a todo lugar, a qualquer hora e falar com quem for necessário falar para descobrir a verdade".
Desde a semana passada, quando Bush fez um discurso exortando a ONU a adotar duras medidas contra o Iraque -ou Washington agiria por conta própria contra Bagdá-, os EUA pressionam o Conselho a dar um prazo-limite a Saddam para que obedeça as resoluções do órgão.
O texto da nova resolução deve ser discutido durante esta semana. Segundo Powell, o Iraque teria "semanas" para mostrar disposição em obedecê-la. "Então, um novo relógio começa a correr sobre o que acontece depois", disse.
Os americanos tentarão convencer os integrantes do Conselho -sobretudo os outros quatro membros permanentes com direito a veto (Reino Unido, França, Rússia e China)- a incluir na resolução um parágrafo autorizando uma ofensiva militar se Saddam não cumprir os termos definidos pela ONU.
Altos funcionários do governo dos EUA acreditam que o país tenha obtido avanços desde a semana passada na conquista de apoio internacional contra o Iraque.
Ao apresentar à ONU o seu caso contra Bagdá, Washington tenta aplacar acusações de que adota posição unilateralista e, assim, busca diminuir a oposição de aliados europeus e do mundo árabe reticentes à idéia de uma nova guerra no Oriente Médio.

Bombardeios
Aviões militares dos EUA e do Reino Unido bombardearam ontem o que disseram ser instalações de defesa antiaérea iraquianas na zona de exclusão aérea no sul do país. Bagdá afirmou que alvos civis foram atingidos. Não há relato de mortos ou feridos na ação.


Com agências internacionais

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