|
Próximo Texto | Índice
VENEZUELA
Presidente diz que é hora de mudar a Constituição, implantada em 1999, e bloco governista já discute emenda
Chavistas preparam reeleição ilimitada
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, 50, defendeu ontem,
em Manaus, uma reforma constitucional no mesmo dia em que foi
divulgada uma proposta do partido oficialista, a ser levada à Assembléia Nacional, que prevê a
reeleição presidencial sem limite
de mandatos.
"Nós resolvemos revisá-la, porque já completou cinco anos",
disse, ao falar da Constituição, em
discurso a empresários do Brasil e
da Venezuela. Ele estava ao lado
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e de vários ministros, entre
eles José Dirceu (Casa Civil) e Celso Amorim (Relações Exteriores).
Amorim disse que não tinha informações sobre a proposta de
emenda constitucional que prevê
a possibilidade de reeleições presidenciais ilimitadas na Venezuela e que o assunto não era de sua
"conta". "Eu não soube disso. Os
venezuelanos é que têm que resolver. Isso não é da minha conta."
Foi a única menção à reforma
constitucional no discurso, que
durou pouco mais de uma hora e
foi transmitido ao vivo à Venezuela pela VTV, o canal estatal.
Mais tarde, ao ser questionado
sobre quais aspectos essa reforma
incluiria, Chávez disse: "Neste
momento não tenho o que adiantar, apenas que a Constituição vai
completar cinco anos, e é necessário, ao nosso critério, fazer uma
revisão, para ver se, em alguma
parte, é possível fazer alguma reforma para fortalecê-la".
A proposta do deputado Luis
Velázquez Alvaray, do Movimento Quinta República (MVR, criado por Chávez), que prevê a reeleição consecutiva do presidente,
foi revelada ontem pelo jornal oficialista "Últimas Notícias". A publicação não informa se Chávez
foi consultado.
A idéia é suprimir a frase "por
apenas uma vez" do artigo constitucional 230, que estabelece a reeleição presidencial. Há outras
propostas de emenda, como a
possibilidade de um deputado
acumular outro cargo público.
A reforma constitucional foi defendida pelo deputado Willian
Lara, ex-presidente da Assembléia e um dos líderes chavistas.
Segundo Lara, "a proposta foi
feita coletando opiniões de diferentes integrantes do [grupo de
deputados oficialistas] Bloque del
Cambio, não apenas do MVR, e
pode ser lida como se fosse de todos os deputados, porque essa é a
forma que estabelece o regulamento". Lara afirmou que a decisão de levar adiante a reeleição indefinida de Chávez seria feita
após debates com vários setores
da sociedade e que sairia somente
no ano que vem.
A proposta da reeleição indefinida foi criticada pela oposição.
O mandato de Chávez, eleito em
1998, já havia sido estendido de
cinco para seis anos após a Constituição de 1999, impulsionada
por ele. Em 2000, ele se submeteu
a uma nova eleição já sob a chamada Constituição Bolivariana,
que introduziu a reeleição.
Com isso, Chávez, que há um
mês venceu um plebiscito convocado pela oposição para abreviar
seu mandato, já tem o direito
constitucional de tentar a reeleição, em 2006.
O governo tem uma folgada
maioria na Assembléia, que é unicameral (não há Senado), e costuma aprovar suas propostas com
facilidade.
Próximo Texto: Chávez propõe criação de aliança militar do sul Índice
|