São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Comediante assusta políticos na Itália

Com popularidade alta, Beppe Grillo mobilizou 50 mil em Bolonha pela diminuição de privilégios dos mandatários

Ator colhe assinaturas para levar ao Parlamento proposta de referendo que mudaria sistema de votação e seleção de candidatos

Pierpaolo Ferreri - 7.mar.07/France Presse
O comediante Beppe Grillo, 59, durante um show em Piacenza


FÁBIO CHIOSSI
DA REDAÇÃO

O comediante italiano Beppe Grillo tem deixado de cabelo em pé boa parte dos políticos italianos, estejam eles ligados à União, a coalizão do governo de centro-esquerda de Romano Prodi, ou à Casa da Liberdade, a forte oposição de direita que tem no ex-premiê Silvio Berlusconi figura de peso.
Tendo feito sucesso com suas sátiras, Grillo, 59, especializou-se em criticar a corrupção -principalmente a política e a empresarial- na Itália.
Além de fazer shows com casa cheia pelo país, o comediante tem colhido assinaturas para um projeto de três pontos: a inelegibilidade de qualquer cidadão que tenha sido condenado por algum crime; a proibição da candidatura dos que já tiverem cumprido dois mandatos na Casa; e a instituição do voto nos nomes dos candidatos, em vez de na lista partidária.
Com essa plataforma, divulgada em seus shows e no seu blog (www.beppegrillo.it), Beppe Grillo conseguiu reunir cerca de 50 mil pessoas na praça central de Bolonha no último dia 8 de setembro. O nome do evento: "V-Day" -abreviação da expressão ítalo-inglesa "Vaffanculo Day". Em português, "Dia do Vão-se".
E os políticos, que Grillo pinta como sanguessugas, não são o único alvo de sua verborragia. Seu blog não poupa banqueiros, a mídia e as "grandes companhias", todos "mentirosos".
No dia seguinte ao ato de Bolonha, em resposta a insinuações de que o comediante estaria querendo fundar um partido político, ele afirmou querer é "destruir os partidos" à platéia de um show em Sabaudia, segundo o jornal "La Repubblica". "Os partidos são o câncer da democracia; somos nós que devemos nos apropriar da política", arrematou.
O abaixo-assinado, registrava seu blog na última quinta, já tinha mais de 330 mil assinaturas. São necessárias 500 mil para que uma proposta de referendo vá ao Parlamento.
Enquanto acadêmicos e articulistas debatiam se a mobilização do V-Day foi política ou "antipolítica", se deveria ser levada a sério ou não, os políticos do país reagiram. Não faltaram acusações de demagogia.
Mas também houve manifestações positivas. Em entrevista ao "La Repubblica", Rosy Bindi, ministra da Família, disse que "somos considerados privilegiados e praticamente inúteis pela comunidade". Bindi sugere então uma resposta de sua classe, apoiando a diminuição dos benefícios de que gozam os parlamentares italianos.
O presidente da Câmara, Fausto Bertinotti, também comentou a mobilização. Segundo disse ao "Corriere della Sera", é natural que "os vácuos políticos sejam preenchidos, mesmo que com material não tão bom". Para Bertinotti, o sucesso de Grillo se explica em parte pela "incapacidade geral da política de reformar a si mesma". Mas, acrescenta, não há solução para o problema fora da própria política.

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