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TV que exibia confrontos é tirada do ar
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
Um das únicas redes de TV na
Bolívia a destacar a cobertura dos
conflitos civis no país foi tirada do
ar na noite de ontem. Em comunicado, a porta-voz da RDP afirmou que a rede fora tirada do ar
pelo governo do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, alvo das
manifestações que abalam o país.
Foi o primeiro caso de censura
por parte do governo contra uma
TV privada durante a atual crise.
Na segunda-feira, sete jornalistas
da TV estatal Unicom -inclusive
a diretora de jornalismo- pediram demissão alegando pressão
do governo. Segundo os jornalistas, eles estariam sendo forçados a
não noticiar os conflitos, que já
deixaram ao menos 70 mortos.
"Eles estão exibindo apenas filmes e programas estrangeiros,
como se os confrontos não existissem", disse o especialista em
mídia boliviana Rafael Archondo
à Folha por telefone. Segundo ele,
a RDP e a Cadena A -que ontem
afirmou ter tido suas antenas cercadas por militares- seriam as
únicas TVs a destacar os conflitos.
"Nesses casos, não se pode falar
em censura por parte do governo,
mas parece haver uma decisão
das diretorias em omitir os conflitos", disse. "A maioria dos canais
se calou desde o princípio. Foi aí
que entraram as rádios."
As rádios abriram telefones e
microfones a ouvintes com informações e tomaram lugar de destaque com o agravamento do
conflito, no último fim de semana. Quatro delas, disse Archondo,
trocaram a programação musical
pelo noticiário ininterrupto.
Segundo Victor Orduno, repórter do semanário "Pulso", de La
Paz, o trabalho jornalístico tornou-se extremamente difícil nos
últimos dias. "Em alguns lugares,
os manifestantes, que não se sentem representados pela imprensa,
têm submetido os jornalistas a
humilhações ou os obrigado a
participar das manifestações",
afirmou Orduno por telefone.
O semanário e o jornal "El Diário" acusam o governo de esgotar
seus exemplares em banca para
impedir o acesso dos leitores.
Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, vários jornalistas bolivianos sofreram ameaças anônimas na cobertura da crise -principalmente os que trabalham em rádio. A RSF também
denunciou o espancamento, pela
polícia, de um repórter do "El
Diário" que cobria uma manifestação em El Alto no último dia 7.
Colaborou Fabiano Maisonnave, enviado especial a La Paz
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