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São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

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TV que exibia confrontos é tirada do ar

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Um das únicas redes de TV na Bolívia a destacar a cobertura dos conflitos civis no país foi tirada do ar na noite de ontem. Em comunicado, a porta-voz da RDP afirmou que a rede fora tirada do ar pelo governo do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, alvo das manifestações que abalam o país.
Foi o primeiro caso de censura por parte do governo contra uma TV privada durante a atual crise. Na segunda-feira, sete jornalistas da TV estatal Unicom -inclusive a diretora de jornalismo- pediram demissão alegando pressão do governo. Segundo os jornalistas, eles estariam sendo forçados a não noticiar os conflitos, que já deixaram ao menos 70 mortos.
"Eles estão exibindo apenas filmes e programas estrangeiros, como se os confrontos não existissem", disse o especialista em mídia boliviana Rafael Archondo à Folha por telefone. Segundo ele, a RDP e a Cadena A -que ontem afirmou ter tido suas antenas cercadas por militares- seriam as únicas TVs a destacar os conflitos.
"Nesses casos, não se pode falar em censura por parte do governo, mas parece haver uma decisão das diretorias em omitir os conflitos", disse. "A maioria dos canais se calou desde o princípio. Foi aí que entraram as rádios."
As rádios abriram telefones e microfones a ouvintes com informações e tomaram lugar de destaque com o agravamento do conflito, no último fim de semana. Quatro delas, disse Archondo, trocaram a programação musical pelo noticiário ininterrupto.
Segundo Victor Orduno, repórter do semanário "Pulso", de La Paz, o trabalho jornalístico tornou-se extremamente difícil nos últimos dias. "Em alguns lugares, os manifestantes, que não se sentem representados pela imprensa, têm submetido os jornalistas a humilhações ou os obrigado a participar das manifestações", afirmou Orduno por telefone.
O semanário e o jornal "El Diário" acusam o governo de esgotar seus exemplares em banca para impedir o acesso dos leitores.
Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, vários jornalistas bolivianos sofreram ameaças anônimas na cobertura da crise -principalmente os que trabalham em rádio. A RSF também denunciou o espancamento, pela polícia, de um repórter do "El Diário" que cobria uma manifestação em El Alto no último dia 7.


Colaborou Fabiano Maisonnave, enviado especial a La Paz

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