São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2004

Próximo Texto | Índice

MISSÃO NO CARIBE

Comando anuncia medidas como bloqueio de ruas e patrulhas aéreas; EUA também pedem mais tropas

Violência faz Brasil endurecer no Haiti

DA REDAÇÃO

Sob avaliação de que Porto Príncipe vive "um clima de violência crescente", a missão militar brasileira na capital haitiana lançou nos últimos dois dias uma série de operações para tentar conter a onda de violência promovida por partidários do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.
As medidas adicionais de segurança incluíram patrulhas com carros blindados, montagem de pontos de bloqueio nas principais vias de circulação, patrulhas aéreas e a organização de forças de reação aérea e terrestre.
O governo haitiano prometeu ontem "força total" contra os partidários de Aristide, chamados de "terroristas".
"A polícia colocará agora todas suas forças nas ruas para garantir que aqueles terroristas que estão impedindo as pessoas de cuidar de sua vida e crianças de ir à escola de terem o que merecem", disse o ministro da Justiça
Ontem, durante uma manifestação, partidários de Aristide trocaram tiros com a polícia haitiana -não havia a presença de "capacetes azuis" brasileiros.
Há relatos de que ao menos três pessoas morreram no confronto, ocorrido em Bel Air, uma imensa favela tradicionalmente favorável a Aristide.
Também houve tiroteios em outras duas favelas da cidade, La Saline e Delmas.
A tensão aumentou ainda mais ontem por conta do décimo aniversário da volta de Aristide, em 15 de outubro de 1994, após ter sido deposto por um golpe militar.
Em protesto contra a onda de violência, iniciada em 30 de setembro, empresários da capital convocaram uma paralisação que fechou o comércio e contribuiu para deixar as ruas da cidade desertas.
Ao menos 50 pessoas morreram por causa dos protestos das últimas semanas. Segundo a polícia, dos 21 policiais mortos no país desde março, dez foram assassinados em Porto Príncipe durante a recente onda de violência. Desses, cinco foram decapitados.
Um dia depois de o chanceler brasileiro, Celso Amorim, ter reclamado do atraso do envio do restante das tropas da ONU ao Haiti, os Estados Unidos pressionaram os países a enviar seus soldados "o mais rapidamente possível" ao país caribenho.

Defasagem
"O número de soldados atual é de 3.103. A comunidade havia se comprometido a dar 6.700 para a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah)", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher. O Brasil mantém atualmente 1.200 homens no Haiti.
"Vamos seguir pressionando os países cujas tropas ainda não chegaram para que as enviem o quanto antes. Esperamos que o número de soldados alcance 5.100 até o final de novembro", disse Boucher.
Questionado sobre as declarações de Amorim, o porta-voz disse: "Enquanto o reforço das tropas não se completar, será difícil [melhorar a situação]".
Além da violência em Porto Príncipe, o país mais pobre das Américas enfrenta uma grave crise humanitária depois que o furacão Jeanne matou ao menos 3.000 pessoas e deixou dezenas de milhares de desabrigados, no mês passado.
A Minustah, encabeçada pelo general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, começou a substituir em junho as tropas internacionais enviadas ao país após a renúncia do presidente Aristide, no final de fevereiro, em meio a um levante armado.
Ontem, países centro-americanos, como Guatemala, El Salvador e Honduras, anunciaram que analisarão um envio de militares ao país para colaborar com a Minustah.


Com agências internacionais


Próximo Texto: Comandante brasileiro liga Kerry à violência
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.