São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2006

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Boca-de-urna aponta 2º turno no Equador

Em empate técnico, megaempresário de direita e ex-ministro esquerdista voltam a se enfrentar em 26 de novembro

Contagem de votos deveria terminar na noite de ontem; Correa diz que não aceitará resultado, que mostra maior força de Noboa na reta final

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO

O ex-ministro esquerdista Rafael Correa e o megaempresário de direita Alvaro Noboa disputarão o segundo turno das eleições presidenciais do Equador, em 26 de novembro, apontam as três pesquisas de boca-de-urna divulgadas após o encerramento da votação de ontem, às 17h locais.
Os números foram considerados fraudulentos por Correa, que disse ter sido eleito no primeiro turno, citando levantamento feito por seu partido, Alianza Pais, e que não aceitará o resultado se não for declarado eleito no primeiro turno.
A contagem oficial dos votos, sob cargo da empresa brasileira E-Vote, deveria ser concluída ainda ontem à noite.
De acordo com o instituto Informe Confidencial, Noboa obteve 28,53% dos votos válidos nas eleições de ontem, pouco à frente de Correa, com 26,61%. Como a margem de erro é de 1,5 ponto percentual, trata-se de um empate técnico. Para haver um vencedor já no primeiro turno, ele teria de ter ao menos 40% dos votos mais uma diferença de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado.
As outras duas pesquisas de boca-de-urna também indicam Noboa e Correa no segundo turno, com ligeira vantagem para o "rei da banana", mas dentro da margem de erro: 27,1% a 25,5%, no instituto Cedatos, e 28,23% a 27,17% na pesquisa da empresa Market.
A grande diferença entre os números de ontem e as últimas pesquisas eleitorais é o crescimento de Noboa, já que Correa aparecia em primeiro lugar na maioria dos levantamentos dos últimos dias, embora longe de vencer no primeiro turno.
Vinte minutos após a divulgação da boca-de-urna, Correa concedeu uma entrevista coletiva para contestar as pesquisas. "As pesquisas estão equivocadas, vencemos por ao menos dois pontos percentuais", disse. "A candidatura cidadã venceu no primeiro turno."
Correa disse que todos os institutos de pesquisa são ligados a candidaturas adversárias e "sempre nos atacaram e manipularam informações". "Muito cuidado, companheiros da Alianza Pais e cidadãos do país. Hoje, mais do que nunca, é preciso estar atento à contagem de votos" afirmou.
"O triunfo foi da Alianza Pais. Qualquer outra coisa significa fraude e graves irregularidades. O que estão tentando fazer é criar uma atmosfera de que a oligarquia ganhou para depois ajustar os votos reais às pesquisas de boca-de-urna."
Desde anteontem, Correa diz que seria vítima de fraude. Pediu a renúncia do ex-chanceler argentino Rafael Bielsa como chefe da missão de observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos), a quem acusou de ser parcial.
A irritação de Correa contra Bielsa ocorreu depois que, em conversa com jornalistas equatorianos, o ex-chanceler criticou a principal proposta de campanha do candidato esquerdista, que defende a convocação de uma nova Assembléia Constituinte.
Ex-ministro da Economia do atual governo Alfredo Palacio, cargo que ocupou por três meses, Correa, 43, vem fazendo uma campanha de ataque contra a chamada "partidocracia". Com forte discurso contra os EUA, o economista se considera aliado do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e propõe a revisão do contrato do Estado com as empresas petroleiras -entre elas, a Petrobras- e a moratória da dívida externa.
Considerado o "rei da banana", Noboa disse, após a divulgação da boca-de-urna, que Correa perdeu por causa de sua aliança com Chávez.
"O povo acaba de dar a maior cintada que podia em um amigo de terroristas, amigo de Chávez, amido de Cuba", afirmou, aludindo ao slogan do esquerdista ("correa" é a palavra para cinto em espanhol). Antes, havia dito que, se eleito, cortará as relações com a Venezuela.
Concorrendo pela terceira vez à Presidência, Noboa, 56, fez uma campanha baseada na distribuição de presentes e num forte discurso religioso.


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