São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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Crescimento é prioridade, diz líder chinês

Ao abrir 17º Congresso do PC, Hu Jintao renova promessa de criar "sociedade moderadamente próspera" até 2020

Presidente fala em democracia só para eleição de dirigentes do partido e descarta abertura política rumo ao pluripartidarismo

Claro Cortes/Reuters
Sob a foice e o martelo, integrantes do PC chinês esperam a abertura do congresso qüinqüenal


CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

À frente de um enorme símbolo da foice e do martelo, o presidente da China, Hu Jintao, fez ontem uma enfática defesa da reforma e da integração de seu país à economia global e ressaltou que manter o ritmo do crescimento econômico é "prioridade máxima" do Partido Comunista.
"O desenvolvimento rápido é a mais destacada conquista [dos últimos cinco anos]", disse Hu, que é secretário-geral do PC, no discurso de duas horas e 25 minutos com o qual abriu o 17º congresso partidário, em Pequim.
Tanto Hu quanto seu antecessor, Jiang Zemin -com quem o presidente trava uma disputa de poder dentro da legenda-, destacaram em suas falas a intenção do governo de quadruplicar o PIB per capita entre 2000 e 2020, quando a China se transformaria em uma sociedade "moderadamente próspera".
A renda per capita atual equivale a cerca de US$ 2.000 e a meta é passar de US$ 5.000.
Numa fala recheada de referências ao marxismo, diante dos 2.200 delegados do partido, Hu descreveu o processo de modernização como uma etapa da "grande causa da construção do socialismo" iniciada com a fundação da República Popular da China, em 1949.
Ele ressalvou que o crescimento econômico deve ser temperado pela teoria do "desenvolvimento científico", com a adoção de um modelo que implique menor consumo de recursos naturais e de energia e melhor distribuição de renda.
O crescimento das últimas três décadas gerou um desastre ambiental na China, com a contaminação da maioria dos rios, chuva ácida em 30% do território e a multiplicação de mortes provocadas pela poluição.
Com sua teoria, Hu deixa sua marca no discurso oficial do partido, mas também mira seu antecessor. Originário de Xangai, cidade-símbolo da China globalizada, Jiang Zemin é identificado com a próspera costa leste e a política do crescimento a qualquer preço.

Monopólio do PC
Apesar das divergências, o discurso de Hu teve muitos pontos em comum com o realizado por seu antecessor ao abrir o 16º Congresso do partido, há cinco anos. Ambos defenderam o império da lei e o aumento "ordeiro" da participação política popular, elementos do que classificam como "democracia socialista".
O atual presidente foi além ao defender maior transparência e reformas que tornem mais competitivas as eleições internas do partido. Nada, no entanto, que ameace o modelo de partido único. Hu deixou claro que a China continuará a ser conduzida exclusivamente pelo PC, que permanecerá "o centro que dá direção à situação geral e coordena os esforços de todos os quadrantes".
Hu defendeu ainda iniciativas de apoio à população rural (57% da população chinesa) e o desenvolvimento de um sistema de seguridade social. A ausência de uma rede de proteção social, o rápido aumento da desigualdade de renda e as disparidades regionais estão entre as principais causas do agravamento da tensão social, que torna o slogan da "sociedade harmoniosa", lançado por Hu, cada vez mais distante.
A mudança no padrão de desenvolvimento proposta no discurso repete elementos do 11º Plano Qüinqüenal (2006-2010), que prevê o aumento do peso do consumo interno no crescimento do PIB.
Até hoje, os principais fatores que impulsionam a expansão chinesa são investimentos e exportações, o que cria desequilíbrios, como o enorme superávit comercial, que deve fechar o ano em valor próximo de US$ 300 bilhões.
O conceito de "desenvolvimento científico" deverá ser incorporado à Constituição do partido, por meio de uma emenda a ser aprovada durante o congresso, que termina no domingo. Com isso, Hu Jintao ficará ao lado dos líderes chineses que o antecederam e deixaram sua contribuição teórica: Mao Tsé-tung, Deng Xiaoping e Jiang Zemin.


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