São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008

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Guerra sem limite

Bush deu seu aval por escrito a afogamento em interrogatórios

Casa Branca mandou ao menos dois memorandos à CIA autorizando tortura em suspeitos de terrorismo, diz jornal

Agência cobrou anuência formal da Presidência para poder usar o método ao interrogar supostos integrantes da Al Qaeda

DA REDAÇÃO

Ao menos duas vezes, o governo Bush aprovou por escrito o uso, pela CIA, de métodos de interrogatório em suspeitos de pertencer à rede terrorista Al Qaeda como o "waterboarding", técnica na qual prisioneiros são submetidos a simulação de afogamento, qualificada como tortura por organizações de direitos humanos.
A revelação foi feita ontem pelo jornal "Washington Post". A publicação ouviu quatro fontes no governo e na inteligência, que têm conhecimento dos dois memorandos secretos, emitidos pela Casa Branca à CIA em 2003 e 2004.
Eles alegaram não poder detalhar o teor dos memorandos, que continuam secretos.
Mas, na condição de não serem identificados, relataram que, sobretudo após denúncias dos abusos na prisão iraquiana de Abu Ghraib, os membros da CIA tinham a preocupação de a Casa Branca posteriormente se afastar das decisões acerca do tratamento aos detidos suspeitos de integrar a Al Qaeda.
Por isso, demandavam um compromisso por escrito ligando o governo à sua maneira de conduzir os interrogatórios. Mesmo após receberem uma primeira permissão, insistiram para que fosse reiterado, em novo documento.
A ansiedade da CIA pela edição de um documento com a anuência formal da Casa Branca aos interrogatórios se devia a lacuna em documento secreto anterior. Em 15 de setembro de 2001, Bush assinara "memorando de notificação" no qual autorizava a CIA a conduzir a guerra contra a Al Qaeda, inclusive matando ou capturando seus membros. Mas o documento não trazia normas sobre a conduta de interrogatórios.
No início de 2002, o Departamento de Estado aprovara os métodos da agência. Nos meses seguintes, houve reuniões em que a cúpula da CIA expôs à equipe da Casa Branca -incluindo a então conselheira de Segurança Nacional e hoje secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o vice-presidente Dick Cheney- sua conduta.

No Legislativo
Em declaração a investigadores do Congresso há um mês, Rice confirmou os encontros e disse que o ex-diretor da CIA, George Tenet, pressionava por "aprovação de política".
Ela sustentou que o governo sabia de "técnicas físicas e psicológicas de interrogatório" e que questionou sua legalidade.
A técnica de simulação de afogamento é considerada um método de tortura por organizações de direitos humanos. Bush, porém, defende sua legalidade e a sua necessidade e, em março deste ano, vetou projeto de lei aprovado pelo Congresso que proibia o uso da técnica.
Ontem, o democrata Jay Rockefeller, presidente da Comissão de Inteligência do Senado, disse que é "inaceitável" a Casa Branca -que não comentou a reportagem- ocultar os memorandos do órgão.


Com agências internacionais


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