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ONU está superada e tem de mudar, diz Lula
No dia em que o Brasil obtém assento temporário no Conselho de Segurança, presidente cobra reforma do organismo
Para brasileiro, composição atual do CS não representa correlação mundial de forças
e torna frágeis as decisões tomadas nas Nações Unidas
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORESTA (PE)
DE NOVA YORK
No mesmo dia em que o Brasil foi eleito para ocupar uma
das vagas temporárias no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas no
biênio 2010-2011, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva disse
que a ONU "está superada" e
que o Conselho de Segurança
"está como uma fruta madura",
passando do ponto de colher e
prestes a cair.
"Há 15 anos o Brasil tem reivindicado uma reforma no
Conselho Permanente de Segurança da ONU", disse Lula.
"Nós estamos convencidos de
que a ONU está superada. A
ONU de 1948 não representa a
correlação de forças existente
hoje, nem geograficamente,
nem economicamente, nem
politicamente", afirmou.
O presidente voltou a reivindicar a necessidade de uma reforma que leve em consideração a participação de países de
todos os continentes. A África,
disse ele, "pode ter dois ou três
países representados no Conselho de Segurança, a América
Latina pode ter um ou dois".
Para Lula, "não tem como explicar" o fato de o Japão, a Alemanha e a Índia não integrarem o Conselho de Segurança.
"Se a ONU quiser voltar a ter
representatividade, tomar decisões, e essas decisões serem
executadas, ela tem que ser reformada e colocar outros países", afirmou o presidente.
"A questão do Oriente Médio, por exemplo, não pode ser
uma coisa particular dos EUA.
Quem deveria estar negociando a paz entre judeus e palestinos é a ONU, e por que ela não
faz isso? Porque ela não tem
força. E nós queremos que a
ONU tenha muita força."
"Eu estou convencido de que
esse negócio do Conselho de
Segurança está como uma fruta
madura, ou seja, ela já está passando do ponto de colher e daqui a pouco ela cai", afirmou
Lula. "E, se os dirigentes da
ONU, sobretudo aqueles países
que mandam no Conselho de
Segurança, não aceitarem a reforma, eles serão responsabilizados pela fragilidade da ONU",
declarou.
Como exemplo da suposta
fragilidade da organização, o
presidente citou o golpe em
Honduras. "O que a OEA [Organização dos Estados Americanos] fez até agora?", questionou. "Fez as reuniões, tomou as
decisões, e simplesmente o golpista [o presidente interino Roberto Micheletti] não atendeu
nada", afirmou.
Para Lula, se a ONU tivesse
maior representatividade política, suas decisões seriam cumpridas "e aí as coisas aconteceriam". "É isso que o Brasil defende e, sinceramente, estou
muito otimista de que, neste
ano, nós conseguiremos fazer
uma reforma no Conselho de
Segurança, nos seus membros
permanentes", declarou.
Vaga temporária
O mandato temporário do
Brasil no conselho começa em
1º de janeiro. Junto com o país,
foram eleitos também Nigéria,
Gabão, Bósnia e Líbano. O Brasil contou com votos de 182 dos
183 países votantes. Os cinco
países substituirão Burkina Faso, Costa Rica, Croácia, Líbia e
Vietnã.
A vaga rotativa está bem longe das aspirações do Brasil, mas
segundo Maurício Cárdenas,
diretor para América Latina do
Instituto Brookings, a eleição é
favorável para a estratégia do
país. "Para obter o que o Brasil
quer, é necessária uma reforma
que não deve ocorrer antes do
término deste mandato para o
qual o Brasil foi eleito. As mudanças virão mais da necessidade de integrar o G20, o novo
centro de poder, com a ONU."
O Brasil será representado
no conselho por uma mulher
pela primeira vez, a embaixadora Maria Luiza Viotti. Para
ela, a atuação do Brasil pode
ajudar na campanha pelo assento permanente. "Vamos
atuar no sentido de fortalecer a
capacidade do conselho de lidar com problemas muito complexos que estão na sua agenda.
Esse fortalecimento deve se dar
pelo diálogo e pela mediação."
Viotti explica que o Brasil
elegeu o Haiti como uma das
prioridades, especialmente em
questões relacionadas ao desenvolvimento do país. O Brasil
tem o comando militar da Minustah (Missão das Nações
Unidas para Estabilização do
Haiti). Outros temas eleitos como prioridade foram a situação
em Guiné-Bissau, a paz no
Oriente Médio e esforços em
favor do desarmamento.
O Conselho de Segurança é
responsável por decidir quais
medidas tomar em situações
consideradas de ameaça à paz.
Ele é composto por cinco membros permanentes (China,
França, EUA, Reino Unido e
Rússia) com poder de veto e dez
membros rotativos. Em 2010,
além dos eleitos ontem, estarão
presentes ainda Áustria, Japão,
México, Turquia e Uganda.
Qualquer resolução precisa
do aval de todos os membros
permanentes e, de modo geral,
de 9 dos 15 votos para ser aprovada.
(FÁBIO GUIBU e JANAINA LAGE)
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