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ONU deve aprovar hoje relatório sobre Gaza
Palestinos conseguem apoio no Conselho dos Direitos Humanos a texto que cobra investigações de supostos crimes de guerra de Israel
Brasil, que endossa relatório,
mas discorda de porta que ele abre à ação do Conselho de Segurança, não decidiu que posição adotará hoje
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O Conselho de Direitos Humanos da ONU deve aprovar
hoje uma resolução proposta
pelos palestinos que condena
as políticas de Israel em Jerusalém Oriental e endossa um
relatório sobre violações israelenses em Gaza. A vitória aparente, porém, deve ter pouco
efeito prático e pode até mesmo enfraquecer a instância do
conselho, avaliam diplomatas.
Até ontem, o texto tinha o
aval de mais de 24 países necessário à aprovação por maioria
simples. Somavam-se os apoios
do grupo africano, do grupo
árabe, do Movimento dos Não
Alinhados, da Conferência Islâmica e, segundo fontes, de parte do grupo de países latino-americanos e do Caribe (Grulac, que inclui o Brasil).
Mas uma vitória apertada
não poderia ser comemorada,
sobretudo após a resolução sofrer críticas não só dos EUA,
aliados automáticos de Israel,
mas também do Brasil.
Segundo a embaixadora Maria Nazareth Azevedo, até o fim
dos debates de ontem o Brasil
não havia decidido como votar
-se contra, a favor ou se, pela
primeira vez em uma resolução
abordando o conflito israelo-palestino, o país se absteria.
A sessão extraordinária foi
convocada pelos palestinos depois que eles retiraram, sem explicar, uma resolução sobre o
tema há duas semanas. A medida provocou pressão doméstica
contra o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e ele recuou.
Mas o Brasil, com o consenso
de países como a Argentina e a
Índia, avalia que a aprovação do
texto como está pouco contribui para o diálogo. "[Queremos] que o conselho ajude no
processo de paz e não que seja
um elemento de desestabilização", disse a embaixadora a jornalistas ontem. Israel já ameaçou deixar as conversas.
Goldstone
O texto, que pode hoje ganhar emendas ou perder parágrafos, toma como base o relatório da missão do conselho
que examinou o conflito de dezembro e janeiro na faixa de
Gaza, no qual morreram 13 israelenses e 1.400 palestinos.
A conclusão da equipe liderada pelo juiz sul-africano Richard Goldstone, apresentada
no mês passado, foi que tanto
soldados israelenses quanto
palestinos cometeram crimes
de guerra. Mas as acusações
mais graves são contra Israel.
O Brasil, bem como quase todos os 47 membros do conselho, endossa o documento. Mas
critica a recomendação por
uma ação do Conselho de Segurança da ONU e eventualmente
do Tribunal Penal Internacional, caso investigações satisfatórias não sejam conduzidas.
"Há muito a ser discutido pelas partes e pelo Conselho de
Direitos Humanos em si", disse
a embaixadora na sessão.
Avalia-se ainda que avançar
no Conselho de Segurança seria um tiro n'água, já que os
EUA vetariam uma resolução
nesse fórum.
Outra preocupação é que a
aprovação sem maioria larga
solape a força do conselho. Recém-retornados ao órgão, os
EUA citam as condenações sucessivas a Israel sem consenso
amplo para questioná-lo.
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