São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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Reino Unido investiga morte de deportado

Jimmy Mubenga, angolano, morreu dentro de avião da British Airways

Para governo britânico, imigrante passou mal; testemunhas afirmam tê-lo ouvido gritar que não conseguia respirar

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

A polícia britânica decidiu investigar as causas da morte de Jimmy Mubenga, um angolano de 46 anos que morreu terça-feira dentro de um avião da British Airways quando estava sendo deportado do país.
Mubenga estava acompanhado de três seguranças de uma empresa privada, contratada pelo governo britânico para levá-lo até Luanda, capital de Angola.
O governo federal e a empresa de segurança afirmaram em nota que Mubenga passou mal dentro do voo e que foi levado a um hospital, onde chegou morto.
Mas testemunhas que estavam no mesmo avião e falaram com o jornal "The Guardian" disseram ter ouvido o angolano gritar por socorro, que não conseguia respirar e que eles (os seguranças) queriam matá-lo.
Disseram também que viram os três seguranças sobre o angolano tentando contê-lo e mantê-lo sentado.
Ainda segundo as testemunhas, após muito se debater e gritar, Mubenga ficou inconsciente.
O avião ainda não havia decolado e foram chamados paramédicos, que o levaram para um hospital.

16 ANOS
Mubenga se mudou com a mulher e um filho pequeno para o Reino Unido em 1994. Alegou ser um líder estudantil em seu país, sofrer perseguição política e correr risco de morte.
Obteve permissão para ficar. Trabalhou como motorista de caminhão, e o casal teve outros quatro filhos. O mais novo tem sete meses.
Em 2006, ele foi condenado a dois anos de detenção por lesão corporal devido a uma briga em um bar.
Começaram aí seus problemas com a imigração.
Mubenga saiu da cadeia e foi direto para um centro de detenção de imigrantes ilegais. Desde então, passava tempos em casa, tempos detido.
Em agosto, perdeu, na Suprema Corte, o último recurso para tentar permanecer no país. Tinha então de comparecer ao centro de imigração todas as segundas-feiras.
Na última segunda, não voltou mais para casa e foi informado sobre a data de sua deportação.
Na terça-feira, já dentro do avião, foi permitido que ligasse uma última vez para a mulher.
"Ele estava muito triste e apenas dizia: eu não sei o que eu vou fazer. Depois, pediu que eu desligasse, que ele ligaria depois. Mas nunca ligou", disse Makenda Kambana, mulher de Mubenga.
Segundo ela, Mubenga tinha muito medo de voltar para Angola, onde, afirma, ainda era perseguido.
"Lá, mataram meu pai, e ele sabia que também o matariam. Ele não queria nos deixar. Nem a mim, nem as crianças. Elas, agora, só choram", afirmou.


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