São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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China tem nova carta pró-democracia

Em texto divulgado na internet, mais de cem dissidentes defenderam também a libertação do Nobel da Paz

Documento coincide com o início do encontro da cúpula do Partido Comunista Chinês, que vai durar quatro dias

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Mais de cem dissidentes e ativistas dos direitos humanos assinaram ontem uma carta na qual elogiam a "esplêndida escolha" do dissidente Liu Xiaobo como Nobel da Paz de 2010 e pedem sua imediata libertação.
A divulgação coincide com o início do encontro anual do Partido Comunista Chinês, que dura quatro dias.
Os autores afirmam ainda que a nomeação deveria empurrar a China para uma reforma democrática.
O documento segue a grande repercussão em todo o mundo da escolha de Liu, ele próprio um defensor da reforma do sistema unipartidário chinês e condenado a 11 anos de prisão por sua participação na Carta 08, um protesto similar pela abertura democrática na China.
Segue ainda manifestações pró-reforma cada vez mais audíveis -e censuradas- na própria China.
Há apenas quatro dias, um grupo de 23 antigos membros do Partido Comunista chinês divulgou uma carta aberta pela liberdade de imprensa. O documento foi retirado da internet no mesmo dia.
O próprio premiê chinês, Wen Jiabao, defendeu recentemente uma reforma política no país e foi censurado pelos veículos estatais.
Os autores da carta alegam estar prontos "para se engajar ativamente neste esforço" promovido por Wen, que mostra o racha no Partido Comunista, mas não foi suficiente para inspirar abertura.
Os dissidentes admitem, contudo, que dificilmente devem causar uma mudança no sistema de governo chinês. Mas o novo protesto se une a um coro de reformistas que promete causar problemas a Pequim.
"Pode não ter um impacto neles, mas nós estamos assinando [a carta] pelo bem de nossa própria consciência", disse um dos autores, o jornalista Li Datong.
Outro dos signatários, Xu Youyu, foi mais otimista.
"No longo prazo, eu estou mais esperançoso que atos como este possam fazer a diferença", afirmou o dissidente à agência de notícias Reuters, por telefone.

LIBERDADE
A carta de ontem pede ainda às autoridades que "libertem imediatamente as pessoas que foram ilegalmente detidas", incluindo Liu. "Ele perseverou na busca dos objetivos da democracia e governo constitucional e colocou de lado a raiva mesmo contra aqueles que o perseguiram."
Liu foi detido em 2008, dois dias antes da divulgação da Carta 08. No ano seguinte, foi condenado a 11 anos de prisão por subversão do poder do Estado.
"Nós pedimos que os procedimentos para libertar Liu Xiaobo sejam tomados sem demora e que Liu e sua mulher possam viajar a Oslo para aceitar o Nobel", escreveram os dissidentes na carta, que circulou pela internet.
A China diz que Liu é um criminoso e que dar a ele o Nobel da Paz é uma "obscenidade".
Pequim chegou a ameaçar seus laços com a Noruega, apesar de o governo não ter voz na escolha do Instituto Nobel, com sede em Oslo. A notícia do Nobel foi censurada nos meios de comunicação. Aparentemente consciente do tamanho que toma a repercussão, a China começa a fechar o cerco contra os dissidentes.


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