São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2011

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Populismo é marca em berço dos Kirchner

Na Patagônia, ex-presidente argentino Néstor e sua mulher, Cristina, que busca reeleger-se no domingo, são cultuados

Província de Santa Cruz é a base do apoio ao casal, que domina a política argentina desde o início da década

LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A RÍO GALLEGOS

O cenário é praticamente o mesmo de rincões conhecidos no Brasil: o nome do chefe local batiza ruas, avenidas, escolas e praças; a política ainda gira em torno dele, e a família e amigos são donos de inúmeros e milionários negócios, muitos sob suspeita.
Ele é o ex-presidente Néstor Kirchner, morto há um ano, e a província em questão é Santa Cruz, na Patagônia, que foi o laboratório do kirchnerismo, no poder na Argentina desde 2003. Cristina Kirchner, que sucedeu o marido na Presidência do país, deverá ser reeleita no próximo domingo.
Diferentemente de Néstor, ela não nasceu em Río Gallegos, capital de Santa Cruz, mas fez de lá o seu "lugar no mundo". Em 1970, recém-casada, trocou La Plata, capital da província de Buenos Aires, pela Patagônia, onde iniciou sua carreira política.
A pobreza em Santa Cruz não se equipara aos piores índices brasileiros, mas é gerida de modo semelhante: a política é populista, clientelista e personalista, há muitas denúncias de corrupção e pouca transparência.
Esse modelo começou a ser formado em 1987, quando Néstor foi eleito prefeito de Río Gallegos e se expandiu a partir de 1991, quando ele se torna governador -foram 12 anos no cargo, até a eleição presidencial de 2003.
Em Santa Cruz, Néstor alterou a Constituição duas vezes (a última para reeleger-se indefinidamente); fortaleceu o poder do Estado, empregando mais de 50 mil entre os 273 mil habitantes da província; criou uma teia de órgãos de mídia favoráveis ao seu governo e travou duro embate com a oposição -que seria uma de suas marcas.
"Sempre achei que era impossível repetir no país o que fizeram aqui", afirma o deputado em Santa Cruz Omar Hallar, da oposicionista UCR (União Cívica Radical).
Apesar das fortes reações despertadas na população local por "Ele e Ela" (como são denominados Néstor e Cristina em Santa Cruz), há certa paranoia em Río Gallegos quando o assunto são eles.
Muitos moradores não quiseram falar à Folha, temendo que o repórter fosse um agente da Side (a agência de serviço secreto argentino), conforme relato posterior de dois habitantes do local.
"Isso virou uma fazenda com o nome do capataz por todos os lados", diz o empresário Juan José Anglesio, 70. Desde a morte do ex-presidente, vítima de infarto, em outubro de 2010, Santa Cruz vive em comoção quase permanente, inaugurando obras e parques com seu nome.
Agora, abrindo nova polêmica, querem trocar na praça central a estátua de Julio Roca, que foi presidente no século 19, por uma de Néstor.
"Éramos um povo esquecido, isso aqui não era nada. Néstor levantou a província, deu infraestrutura e condições mais dignas, colocou Santa Cruz no mapa da Argentina", diz o amigo Pablo González, chefe de gabinete do governo local e candidato ao Senado nessas eleições.
"Apesar de ele ter me dito uma vez que não gostaria que seu nome ficasse batizando ruas e avenidas, ele merece toda a veneração."


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