São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 2005

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EUROPA

Decisão é "sábia e razoável", diz o ministro Sarkozy

Crise arrefece, mas deputados da França prorrogam lei de exceção

DA REDAÇÃO

A Assembléia Nacional francesa aprovou ontem à noite, por 346 votos a 148, a extensão por mais 90 dias do estado de emergência.
A medida, que permite aos prefeitos a imposição do toque de recolher, procura pôr fim às 19 noites consecutivas de agitação e queima de veículos em subúrbios que concentram jovens imigrantes desempregados.
A questão será hoje votada pelo Senado, onde o governo também possui expressiva maioria. O estado de emergência já vigora desde 9 de novembro, por força de decreto. Sua prorrogação dependia de aprovação parlamentar.
O movimento, espontâneo e em protesto contra o desemprego e contra a discriminação étnica, está se esvaziando, segundo a polícia. Na madrugada desta terça-feira foram queimados 215 veículos, contra 284 na véspera e 374 na noite anterior. São cifras do chefe da polícia, Michel Gaudin.
O número de vândalos interpelados também decresceu. Foram 71, contra 115 na véspera e 212 na noite de sábado para domingo.
Ao defender a prorrogação das medidas de exceção, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, disse que a França enfrenta "uma das mais graves e mais complexas crises urbanas". Por isso, a decisão do governo é "sábia e razoável".
O primeiro-ministro, Dominique de Villepin, afirmou que o estado de emergência poderia ser suspenso antes dos previstos 90 dias, caso "a paz seja restaurada de forma consistente". Ele qualificou a situação de "ainda difícil" e disse que "não se pode aceitar que todas as noites duas centenas de veículos sejam queimadas".
O toque de recolher foi implantado até agora em poucos dos 38 municípios que poderiam fazê-lo. Prefeitos acreditam que isso levaria à exaltação dos ânimos em lugar de dissuadir novos protestos.
A bancada do Partido Socialista votou contra. Seu líder, Jean-Marc Ayrault, disse que as leis existentes bastariam para a manutenção da ordem. Lembrou que mesmo em 1968, com a agitação estudantil e as greves generalizadas, o então presidente De Gaulle não apelou para o estado de emergência. "A França não está em guerra civil", disse ele.
Villepin visitou ontem pela manhã Aulnay-sous-Bois, um dos subúrbios de Paris em que o protesto começou. Afirmou que seu governo seria duro com os vândalos, mas que estava determinado a integrar à vida econômica os jovens pertencentes a minorias.
Durante os 19 dias de agitações, 8.810 veículos foram queimados, uma centena de prédios públicos, atingidos por coquetéis molotov, e uma outra centena de empresas, parcial ou totalmente danificadas por tentativas de incêndio.
Segundo Villepin, 125 policiais foram feridos, 2.800 manifestantes, interpelados, e 600 outros foram presos.
As manifestações tiveram como estopim a morte acidental de dois adolescentes muçulmanos em 27 de outubro, em Clichy-sous-Bois, outro subúrbio parisiense.


Com agências internacionais

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