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Brasileiros deixam de emigrar via México
Detenção de imigrantes ilegais na fronteira com EUA caiu 95,3%, por causa de deportação automática e exigência de visto
Para ativista, as medidas para coibir entrada de brasileiros "salvaram muitas vidas" e mostram que há alternativas ao muro
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo antes de erguer o criticado muro na fronteira com o
México, o governo de George
W. Bush conseguiu reduzir em
95,3% o número de brasileiros
tentando entrar ilegalmente no
país pela fronteira mexicana
em relação ao ano passado, segundo dados da Patrulha da
Fronteira fornecidos a pedido
da Folha. Os principais motivos foram a implantação da deportação automática e a volta
da exigência de visto para entrar no México.
Ao longo do ano fiscal de
2006 (de 30 setembro de 2005
a 1º de outubro passado), foram
presos, em média, apenas 4
brasileiros por dia na região de
fronteira com o México, contra
85,1 casos por dia no ano passado. Trata-se do menor índice
desde o ano de 2001.
A redução da entrada de brasileiros foi bem maior do que a
de outras nacionalidades classificadas pela Patrulha da
Fronteira como OTMs (não-mexicanos, na sigla em inglês),
igualmente afetadas pela adoção da deportação automática,
medida já em vigor para imigrantes ilegais mexicanos.
O número de OTMs presos
-excluídos os brasileiros- em
2006 caiu apenas 20,53% em
relação ao ano passado, de
165.170 para 108.026 imigrantes ilegais, na grande maioria
centro-americanos. Assim, o
Brasil caiu de quarto para sétimo no ranking de detidos na
fronteira com o México. A participação brasileira no total de
OTMs presos nesse período foi
de 18,81% para 1,35%.
De acordo com a Patrulha da
Fronteira, a adoção da deportação imediata, a partir de meados do ano passado, foi crucial
para inibir a imigração brasileira, além do emprego da Guarda
Nacional na fronteira e mais
tecnologia de vigilância.
Antes, os imigrantes não-mexicanos presos eram soltos
mediante o compromisso de
comparecerem a uma audiência judicial, o que raramente
ocorria. Essa brecha foi bastante explorada pelos brasileiros,
que cruzavam a fronteira e se
entregavam aos patrulheiros.
A vice-cônsul do Brasil em
Houston, Flávia Passos, afirma
que a volta da exigência do visto pelo governo mexicano também contribuiu para inibir a
imigração, pois "faz das rotas
alternativas um roteiro mais
penoso, caro e perigoso". A
principal rota alternativa tem
sido atravessar o México ilegalmente vindo da Guatemala.
Nos EUA, afirma Passos, "a
política mais rigorosa vem cercando os imigrantes já dentro
do país. Tempos atrás se dizia
que os problemas acabavam
depois da fronteira. Isso vem
mudando no cotidiano americano, onde imigrantes sem documentos passaram a ser detidos em casa ou no trabalho".
Para Fausto da Rocha, do
Centro do Imigrante Brasileiro, que atua na região de Boston, o número de recém-chegados diminuiu bastante. Ele disse que a deportação automática
e a volta do visto no México
"salvaram muitas vidas de brasileiros" e "provam que o muro
é desnecessário", pois existem
outras alternativas. "O que é
preciso agora é que o governo
dê mais vistos de trabalho para
que as pessoas possam vir legalmente", afirmou.
O projeto de construção de
um muro na fronteira com o
México, aprovado por Bush,
provocou uma onda de críticas.
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