São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2006

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Brasileiros deixam de emigrar via México

Detenção de imigrantes ilegais na fronteira com EUA caiu 95,3%, por causa de deportação automática e exigência de visto

Para ativista, as medidas para coibir entrada de brasileiros "salvaram muitas vidas" e mostram que há alternativas ao muro


FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo antes de erguer o criticado muro na fronteira com o México, o governo de George W. Bush conseguiu reduzir em 95,3% o número de brasileiros tentando entrar ilegalmente no país pela fronteira mexicana em relação ao ano passado, segundo dados da Patrulha da Fronteira fornecidos a pedido da Folha. Os principais motivos foram a implantação da deportação automática e a volta da exigência de visto para entrar no México.
Ao longo do ano fiscal de 2006 (de 30 setembro de 2005 a 1º de outubro passado), foram presos, em média, apenas 4 brasileiros por dia na região de fronteira com o México, contra 85,1 casos por dia no ano passado. Trata-se do menor índice desde o ano de 2001.
A redução da entrada de brasileiros foi bem maior do que a de outras nacionalidades classificadas pela Patrulha da Fronteira como OTMs (não-mexicanos, na sigla em inglês), igualmente afetadas pela adoção da deportação automática, medida já em vigor para imigrantes ilegais mexicanos.
O número de OTMs presos -excluídos os brasileiros- em 2006 caiu apenas 20,53% em relação ao ano passado, de 165.170 para 108.026 imigrantes ilegais, na grande maioria centro-americanos. Assim, o Brasil caiu de quarto para sétimo no ranking de detidos na fronteira com o México. A participação brasileira no total de OTMs presos nesse período foi de 18,81% para 1,35%.
De acordo com a Patrulha da Fronteira, a adoção da deportação imediata, a partir de meados do ano passado, foi crucial para inibir a imigração brasileira, além do emprego da Guarda Nacional na fronteira e mais tecnologia de vigilância.
Antes, os imigrantes não-mexicanos presos eram soltos mediante o compromisso de comparecerem a uma audiência judicial, o que raramente ocorria. Essa brecha foi bastante explorada pelos brasileiros, que cruzavam a fronteira e se entregavam aos patrulheiros.
A vice-cônsul do Brasil em Houston, Flávia Passos, afirma que a volta da exigência do visto pelo governo mexicano também contribuiu para inibir a imigração, pois "faz das rotas alternativas um roteiro mais penoso, caro e perigoso". A principal rota alternativa tem sido atravessar o México ilegalmente vindo da Guatemala.
Nos EUA, afirma Passos, "a política mais rigorosa vem cercando os imigrantes já dentro do país. Tempos atrás se dizia que os problemas acabavam depois da fronteira. Isso vem mudando no cotidiano americano, onde imigrantes sem documentos passaram a ser detidos em casa ou no trabalho".
Para Fausto da Rocha, do Centro do Imigrante Brasileiro, que atua na região de Boston, o número de recém-chegados diminuiu bastante. Ele disse que a deportação automática e a volta do visto no México "salvaram muitas vidas de brasileiros" e "provam que o muro é desnecessário", pois existem outras alternativas. "O que é preciso agora é que o governo dê mais vistos de trabalho para que as pessoas possam vir legalmente", afirmou.
O projeto de construção de um muro na fronteira com o México, aprovado por Bush, provocou uma onda de críticas.


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