São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Brasil e Bolívia terão parceria antidrogas em 2009, diz Rada

Ministro boliviano afirma que programa de cooperação bilateral começaria já em janeiro

Plano deve ser lançado nesta sexta; Brasília e La Paz buscam apoio de outros países do Mercosul para ações policiais e judiciais


Sergio Lima-13.nov.08/Folha Imagem
Rada em Brasília; países avaliam parceria no combate às drogas

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro de Governo da Bolívia, Alfredo Rada, confirmou que vai trabalhar em conjunto com o Brasil no combate ao narcotráfico já a partir de janeiro do próximo ano. Autoridades policiais e judiciais dos dois países farão investigações e operações contra grupos criminosos nos dois países.
"Há vontade política de encarar ações imediatas, o que denominamos um programa de cooperação bilateral, no ano de 2009, que começaria já em janeiro e que significaria operações conjuntas policiais e judiciais de luta contra o narcotráfico nos dois lados da fronteira", afirmou Rada, em entrevista à Folha, na última quinta.
A medida fará parte de um plano emergencial que deve ser lançado na próxima sexta-feira em Porto Alegre, durante a reunião dos ministros da Justiça dos países-membros e associados do Mercosul. A data e o local foram escolhidos com a intenção de convencer outros países do bloco a participar de uma estratégia regional de combate às drogas. Segundo Rada, Argentina e Paraguai ainda não endossaram a idéia.
Por meio da estratégia regional, o Brasil quer ocupar o espaço criado quando o presidente Evo Morales expulsou a DEA (agência norte-americana de combate às drogas) de seu país, no início deste mês.
A diplomacia brasileira pretende exercer uma liderança mais efetiva na região em um setor relacionado à segurança. A estratégia será discutida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Morales na Cúpula América Latina e Caribe, em dezembro, na Bahia.
"Ficou demonstrado que entre governos progressistas é possível unir esforços para encarar a luta contra o narcotráfico de ambos os lados da fronteira. Somos sócios nesta luta", disse o ministro boliviano.
Rada reuniu-se na quinta com o ministro da Justiça, Tarso Genro, e os dois criaram uma comissão binacional para atualizar os acordos de cooperação na fronteira já em vigor, dando maior liberdade de ação a policiais e investigadores dos dois países em ações conjuntas.
A abordagem boliviana, que contraria a orientação da ONU, é controlar a expansão da coca, mas manter o cultivo para uso tradicional da planta em áreas autorizadas -hoje são 12 mil hectares.

EUA e UE
Rada afirma que EUA e União Européia devem ser "co-responsáveis" na luta contra o tráfico de drogas na região por representarem os maiores mercados consumidores.
"A cooperação binacional na região é muito importante, mas não exclui o aporte internacional necessário. Estou falando da América do Norte e da União Européia. Os EUA e a UE são os principais mercados de consumo de drogas", afirma Rada.
Mas os países industrializados devem fornecer apenas os recursos, diz o boliviano, deixando a decisão de como utilizar o dinheiro com o governo boliviano. "O que não aceitamos é cooperação que esteja condicionada a algum tipo de decisão política. Isso são assuntos internos de cada Estado."
Na sexta-feira, Morales voltou a criticar a DEA e anunciou a criação de uma agência de inteligência na Bolívia para auxiliar o combate ao tráfico.
O ministro lembrou ainda que o Plano Colômbia, pelo qual os EUA deram US$ 6 bilhões a Bogotá nos últimos oito anos, fracassou -a produção de cocaína no país aumentou 4% entre 2000 e 2006. Assim, diz Rada, a comunidade internacional deveria conhecer a experiência do governo Morales.
"Reivindico a experiência boliviana. Erradicamos mais do que prevê a lei e não precisamos lamentar a morte de camponeses e danos ao ambiente."


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