São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chávez domina campanha eleitoral regional

Sob o risco de que seus aliados percam os governos de até oito Estados no próximo domingo, presidente se planta no palanque

Venezuelano eleva retórica de ataques à oposição, que, mais unida e forte, ameaça hegemonia chavista até em Barinas, seu Estado natal


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Mais parece uma campanha presidencial: em praticamente todos os dias das últimas semanas, Hugo Chávez tem percorrido a Venezuela participando de carreatas e discursando contra a oposição. Tanto esforço tem o difícil objetivo de manter o amplo domínio do oficialismo nas eleições para governador e prefeito do próximo domingo.
A disputa está bem mais acirrada do que há quatro anos, quando a oposição, recém-derrotada no referendo para revogar o mandato de Chávez, não ofereceu resistência ao governo. O resultado é que hoje 22 dos 24 Estados e mais de 70% dos municípios estão nas mãos de aliados do presidente.
Neste ano, Chávez enfrenta tanto uma oposição mais unida quanto uma rebelião na sua base que, iniciada no ano passado, provocou a debandada de quatro governadores, entre os quais os dos importantes Estados de Carababo (industrializado e o terceiro mais populoso) e Aragua, onde está a maior concentração militar do país.
Outra rebelião interna foi a decisão das agremiações Pátria Para Todos (PPT) e Partido Comunista da Venezuela (PCV) de não se aliar ao PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) e lançar candidatos próprios em várias regiões do país.
Tanto os ex-aliados quanto opositores tradicionais têm sido alvo de duros ataques de Chávez, que os acusa de planejar um golpe de Estado e seu assassinato depois das eleições.
"Esta é uma revolução que está armada, e o povo está disposto a defender o processo revolucionário. Não se equivoquem", ameaçou Chávez, durante comício na última terça.
Por trás do empenho presidencial há a intenção de realizar um novo referendo sobre a reeleição sem limites, proposta rechaçada no ano passado, quando Chávez amargou sua primeira derrota eleitoral desde que subiu ao poder, em 1999.
Dirigentes do PSUV, como o ex-ministro e candidato a governador de Guárico (centro) Willian Lara, já declaram que uma vitória convincente nas eleições do dia 23 ajudará a relançar a mudança constitucional que permitirá a Chávez disputar mais seis anos, em 2012.
"O objetivo de Hugo Chávez é conseguir mudar o texto constitucional para ter uma norma que lhe permita reeleger-se indefinidamente e ser o presidente vitalício da Venezuela", disse na quarta-feira o ex-ministro da Defesa Raúl Baduel, que rompeu com o governo no ano passado após mais de duas décadas de aliança política com o presidente venezuelano.
Pesquisas recentes, porém, mostram que Chávez dificilmente repetirá a "onda vermelha" de 2004. Levantamento do instituto Hinterlaces divulgado na semana passada mostra que a oposição tem grandes chances de vencer em oito Estados, entre os quais Zulia e Carabobo, que juntos concentram cerca de 22% da população do país.
Até a pesquisadora pró-governo GIS XXI disse recentemente que a oposição pode levar 6 de 23 Estados em disputa.
Em Caracas, o instituto de pesquisa Datanális prevê a vitória da oposição no município de Sucre, hoje sob controle governista. Se confirmada, será um avanço simbólico, já que inclui a gigantesca favela do Petare, histórico reduto chavista.
Já a disputa do governo distrital de Caracas, hoje sob um aliado do presidente, está indefinida, segundo o Datanálisis.
Chávez corre o risco de perder até Barinas, seu Estado natal e há dois mandatos governado por seu pai, Hugo de los Reyes Chávez. Ali, seu irmão Adán trava disputada acirrada com o dissidente Julio César Reyes.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Boom tecnológico financia guerra no Congo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.