|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Artistas fazem de mansão em Londres circo
Coletivo ocupa casa avaliada em 6,25 milhões de libras em um dos bairros mais caros da cidade para fazer performances
Grupo entrou pela janela em prédio vazio de 30 cômodos; só uma ordem judicial pode tirá-lo de lá, e, após 12 anos, é possível reivindicar posse
DE LONDRES
"Quem nós somos não é importante. Como um coletivo,
nós ocupamos um prédio vazio
e dilapidado em Mayfair. Estamos tornando esse lugar vivo
por meio da troca de conhecimento e de idéias. DA!", dizia o
cartaz escrito a mão na porta da
mansão de um dos bairros mais
chiques de Londres, a alguns
passos do Hyde Park.
Um grupo formado por artistas e adolescentes entrou no lugar há mais de um mês, no início de outubro, por uma janela
destrancada. O planejamento
para invadir o casarão abandonado durou meses, mas foi incrivelmente simples quando alguns integrantes do "coletivo"
DA!, vestidos como operários,
colocaram uma escada que alcançava a janela do primeiro
andar e entraram. Durante
quatro semanas, trabalharam
em silêncio, até anunciarem
uma performance em uma matéria do jornal "The Guardian".
Para efeito de comparação, é
como se um grupo tomasse
uma casa no Jardim Europa ou
um prédio no Leblon e armasse
uma galeria de eventos e performances por lá. A mansão
tem preço estimado de 6,25 milhões de libras (R$ 21 milhões).
A embaixada americana fica na
esquina. E a residência oficial
do embaixador brasileiro é apenas uma quadra abaixo.
Um dos pontos curiosos é
que, até agora, o dono parece
não ter reagido à invasão. A
mansão, de 30 cômodos, está
registrada em nome da Deltaland Resources Ltd., uma empresa com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. O problema é
que, pela lei do Reino Unido, os
invasores agora só podem ser
expulsos por ordem judicial.
"Não há uma data definida
para ir embora. A gente pode ficar aqui por um looongo tempo", afirmou na sexta Stephanie Smith, uma das líderes do
grupo. Pela lei, depois de 12
anos o grupo pode reivindicar a
propriedade do local.
Os artistas mantêm uma relação paradoxal com a mídia.
Ao mesmo tempo em que comemoravam em conversas nos
seus celulares toda a atenção
que estavam recebendo, reclamavam do assédio. Ninguém
pode falar com a imprensa sem
antes os comunicados serem
decididos pelo "coletivo".
"O povo está maluco, todo
mundo quer alguma coisa! Parece que o "Sunday Times" quer
colocar alguma coisa de qualquer jeito na edição desta semana", dizia Simon McAndrew
para sua mulher. A seu lado,
John (que não quis dizer o sobrenome) gritava: "Deixem a
gente em paz! Não é sobre nós,
é sobre arte!".
A Folha visitou a mansão
duas vezes. Na primeira, uma
coleção de "personagens" chegou ao local, para se juntar aos
cerca de 20 artistas que preparavam as performances. Na segunda, o cartaz havia sido arrancado da porta, e apenas a
bandeira preta na sacada do segundo andar marcava a presença do grupo.
O DA! é um movimento que
ocupa prédios públicos para
"dar aos artistas um lugar para
comunicar a sua arte", segundo
o manifesto na página do grupo
(www.dagallery.co.uk).
O grupo já havia invadido outras áreas em Londres, mas nada tão audacioso nem em um
lugar tão "posh", a gíria dos
londrinos para uma mistura de
rico e descolado. Em frente, há
um restaurante recém-inaugurado, onde se pode comer alcachofra com lagostins, como entrada, por 19,50 libras (R$ 66).
Texto Anterior: Nicarágua: Oposição propõe lei para anular eleições Próximo Texto: Frases Índice
|