São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Artistas fazem de mansão em Londres circo

Coletivo ocupa casa avaliada em 6,25 milhões de libras em um dos bairros mais caros da cidade para fazer performances

Grupo entrou pela janela em prédio vazio de 30 cômodos; só uma ordem judicial pode tirá-lo de lá, e, após 12 anos, é possível reivindicar posse


DE LONDRES

"Quem nós somos não é importante. Como um coletivo, nós ocupamos um prédio vazio e dilapidado em Mayfair. Estamos tornando esse lugar vivo por meio da troca de conhecimento e de idéias. DA!", dizia o cartaz escrito a mão na porta da mansão de um dos bairros mais chiques de Londres, a alguns passos do Hyde Park.
Um grupo formado por artistas e adolescentes entrou no lugar há mais de um mês, no início de outubro, por uma janela destrancada. O planejamento para invadir o casarão abandonado durou meses, mas foi incrivelmente simples quando alguns integrantes do "coletivo" DA!, vestidos como operários, colocaram uma escada que alcançava a janela do primeiro andar e entraram. Durante quatro semanas, trabalharam em silêncio, até anunciarem uma performance em uma matéria do jornal "The Guardian".
Para efeito de comparação, é como se um grupo tomasse uma casa no Jardim Europa ou um prédio no Leblon e armasse uma galeria de eventos e performances por lá. A mansão tem preço estimado de 6,25 milhões de libras (R$ 21 milhões). A embaixada americana fica na esquina. E a residência oficial do embaixador brasileiro é apenas uma quadra abaixo.
Um dos pontos curiosos é que, até agora, o dono parece não ter reagido à invasão. A mansão, de 30 cômodos, está registrada em nome da Deltaland Resources Ltd., uma empresa com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. O problema é que, pela lei do Reino Unido, os invasores agora só podem ser expulsos por ordem judicial.
"Não há uma data definida para ir embora. A gente pode ficar aqui por um looongo tempo", afirmou na sexta Stephanie Smith, uma das líderes do grupo. Pela lei, depois de 12 anos o grupo pode reivindicar a propriedade do local.
Os artistas mantêm uma relação paradoxal com a mídia. Ao mesmo tempo em que comemoravam em conversas nos seus celulares toda a atenção que estavam recebendo, reclamavam do assédio. Ninguém pode falar com a imprensa sem antes os comunicados serem decididos pelo "coletivo".
"O povo está maluco, todo mundo quer alguma coisa! Parece que o "Sunday Times" quer colocar alguma coisa de qualquer jeito na edição desta semana", dizia Simon McAndrew para sua mulher. A seu lado, John (que não quis dizer o sobrenome) gritava: "Deixem a gente em paz! Não é sobre nós, é sobre arte!".
A Folha visitou a mansão duas vezes. Na primeira, uma coleção de "personagens" chegou ao local, para se juntar aos cerca de 20 artistas que preparavam as performances. Na segunda, o cartaz havia sido arrancado da porta, e apenas a bandeira preta na sacada do segundo andar marcava a presença do grupo.
O DA! é um movimento que ocupa prédios públicos para "dar aos artistas um lugar para comunicar a sua arte", segundo o manifesto na página do grupo (www.dagallery.co.uk).
O grupo já havia invadido outras áreas em Londres, mas nada tão audacioso nem em um lugar tão "posh", a gíria dos londrinos para uma mistura de rico e descolado. Em frente, há um restaurante recém-inaugurado, onde se pode comer alcachofra com lagostins, como entrada, por 19,50 libras (R$ 66).


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