São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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Zelaya diz já não aceitar acordo para volta

Presidente deposto de Honduras afirma que firmar pacto com golpistas às vésperas de eleições seria "encobrir golpe de Estado"

Hondurenho lamenta, em carta a Obama, mudança de posição dos EUA e diz que pleito sem sua restituição será "vergonha histórica"

Esteban Felix/Associated Press
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, lê a carta que escreveu a Barack Obama, na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa

DA REDAÇÃO

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, anunciou ontem que, diante da proximidade das eleições para escolher o seu sucessor e da demora do Congresso para se pronunciar sobre sua restituição, já não aceita nenhum acordo para retornar à Presidência e "encobrir o golpe de Estado" que o depôs em 28 de junho.
Em uma carta endereçada ao presidente dos EUA, Barack Obama, e lida em voz alta pelo próprio Zelaya na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado desde 21 de setembro, o presidente deposto lamenta a mudança de posição dos EUA, que saíram de um apoio incondicional à volta de Zelaya a uma sinalização cada vez mais forte de que reconhecerão o resultado das eleições do próximo dia 29 independentemente da restituição.
"Como presidente constitucional de Honduras (...), me vejo na obrigação de informar que sob essas condições não podemos respaldá-las [as eleições] e procederemos para impugná-las legalmente em nome de milhares de hondurenhos e de centenas de candidatos que sentem que se trata de uma competição desigual na qual não se dão as condições de participação em liberdade", disse Zelaya na carta a Obama.

Acordo fracassado
Sob mediação dos EUA, Zelaya e o presidente interino Roberto Micheletti assinaram no último dia 31 um acordo para pôr fim à crise no país, cujos pontos principais eram: a) que o Congresso votasse para decidir sobre o retorno de Zelaya ao cargo; b) a formação de um governo de unidade e de reconciliação nacional e c) o reconhecimento por ambas as partes do resultado da eleição do dia 29.
Após Micheletti tentar estabelecer o governo de unidade antes de o Congresso se pronunciar sobre o retorno de Zelaya, o presidente deposto disse considerar o acordo rompido.
Os EUA tentaram promover a retomada do diálogo inclusive com o envio de um diplomata a Tegucigalpa, mas diferentes funcionários do país, inclusive o embaixador na OEA (Organização dos Estados Americanos), já defenderam o reconhecimento do resultado das eleições como solução para a crise.
Na carta para Obama, Zelaya diz que "realizar eleições nas quais o presidente eleito pelo povo de Honduras está prisioneiro, rodeado por militares na sede diplomática do Brasil, e um presidente "de facto", que impuseram os militares, [está] rodeado pelos poderosos no palácio de governo será uma vergonha histórica para Honduras e uma infâmia para os povos democráticos da América".
Zelaya acusa os EUA de "alterarem sua posição no caso de Honduras e favorecerem a intervenção abusiva das castas militares na vida cívica de nosso Estado" e pede uma pronta resposta de Obama -na esperança de que o americano reafirme seu apoio à restituição.
Até o fechamento desta edição, os EUA ainda não haviam respondido à carta de Zelaya.


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