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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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FIM DA CAÇADA

EUA atuarão em julgamento, diz Bush


País trabalhará com iraquianos para julgar Saddam, diz presidente; pesquisa mostra que 59% dos americanos querem pena de morte


CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

O presidente George W. Bush declarou ontem que os Estados Unidos vão ter um papel de destaque na organização do julgamento de Saddam Hussein. Caberá aos iraquianos, porém, decidir sobre o tipo de punição a ser aplicada a Saddam, disse Bush.
"Nós vamos trabalhar com os iraquianos para desenvolver uma forma de julgá-lo que resista a um escrutínio internacional", disse Bush ontem durante entrevista coletiva em Washington. "Os iraquianos precisam estar bastante envolvidos", completou.
Para o maior aliado internacional de Bush, o premiê britânico, Tony Blair, Saddam deve ser julgado pelos iraquianos.
Quando questionado se o ex-ditador deveria receber a pena de morte, o presidente dos EUA se esquivou. "Tenho minhas opiniões. Ele é um ditador brutal. É um homem que matou várias pessoas, mas as minhas opiniões não são importantes nesse caso."
Menos solene e mais eloquente do que em seu breve pronunciamento de domingo, Bush se dirigiu diretamente ao iraquiano. "O mundo está melhor sem você, senhor Saddam Hussein. Eu acho muito interessante que, quando as coisas esquentaram, você tenha cavado um buraco e rastejado para dentro dele."
Apesar do nítido entusiasmo demonstrado por Bush, mais uma vez o presidente enfatizou que as forças americanas no Iraque ainda enfrentam dificuldades. "Os terroristas no Iraque continuam perigosos. O trabalho da coalizão permanece perigoso e vai requerer mais sacrifícios. Mas, é preciso deixar claro para todos que os iraquianos estão no caminho para a liberdade. Um Iraque livre servirá à paz e à segurança na América e no mundo", declarou. Bush previu ainda o aumento de tensões no Iraque: "Eu acredito que haverá mais violência porque ainda há aliados de Saddam que estão frustrados", afirmou.
O presidente também insinuou que a prisão de Saddam não significa uma aceleração da retirada de tropas da região. Endereçando-se diretamente ao povo iraquiano, Bush afirmou: "Vocês podem confiar que os Estados Unidos permanecerão até que o trabalho esteja terminado". Em seguida, acrescentou: "Eles [os terroristas] vão tentar matar na esperança de que nós fujamos. Os cidadãos do Iraque precisam saber que nós ficaremos".
O presidente também insinuou que a captura de Saddam pode não ser um grande passo para obter informações sobre armas de destruição em massa no Iraque. "Eu não confio em Saddam. Não acredito que ele dirá a verdade". A suposta existência desse tipo de armamento, ainda não encontrado, foi o principal argumento usado por EUA e Reino Unido para atacar o Iraque. A guerra começou em 20 de março, e Bush declarou o fim dos principais combates em 1º de maio.
Já no encerramento da entrevista coletiva, Bush relatou que recebeu um telefonema de seu pai, o ex-presidente George Bush. "Foi uma conversa bastante breve. Ele me deu parabéns e disse que era um grande dia para o país. Eu respondi que era um dia ainda maior para o povo iraquiano", disse.
Bush pai foi muito criticado por ter deixado Saddam no poder após expulsar suas tropas do Kuait, em 1991, e foi vítima de tentativa de assassinato atribuído a Saddam, em 1993.

Apoio da população
Alinhada com o otimismo de Bush, a maioria da população americana considera a captura de Saddam um grande acontecimento para os Estados Unidos. A conclusão parte de pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Gallup em parceria com a CNN e o jornal "USA Today".
De acordo com o levantamento, 82% dos americanos afirmam que a prisão do líder iraquiano é um feito significativo, 11% dizem que é um fato de menor importância e 6% argumentam que não tem nenhuma relevância.
A pesquisa indica, entretanto, que o índice de entusiasmo com o encarceramento de Saddam não está diretamente associado ao aumento do apoio da população à Guerra do Iraque: 62% dos entrevistados disseram que apóiam a guerra. No levantamento anterior, realizado entre 5 e 7 de dezembro, o índice de aprovação era de 59%.
A pesquisa tratou ainda de questões relacionadas ao destino do ex-ditador iraquiano: 48% das pessoas disseram que Saddam deve ser julgado em um tribunal internacional, e 59% defendem a pena de morte para o iraquiano.
A esperada ajuda da captura na campanha de reeleição de Bush em novembro de 2004 parece não ter ocorrido ainda.
Segundo a pesquisa, 45% já pretendiam votar em Bush e só 3% ficaram mais propensos a votar no republicano. Já 43% disseram que não pretendem votar nele.
Os dados foram coletados por meio de entrevistas por telefone com 664 pessoas no domingo. A margem de erro é de quatro pontos para cima ou para baixo.


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