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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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Saddam tentou negociar, dizem EUA


"Eu sou Saddam Hussein e desejo negociar", teria dito o ex-ditador, em inglês, ao ser pego; ele não tem colaborado nos interrogatórios


DA REDAÇÃO

"Eu sou Saddam Hussein. Eu sou o presidente do Iraque e desejo negociar", disse, em inglês, o homem encontrado sábado num buraco de 1,8 metro de comprimento e apenas 65 centímetros de largura ao ser encontrado por soldados, segundo a versão divulgada por militares americanos. Com ele, havia US$ 750 mil.
"O presidente Bush manda lembranças", teria dito um dos soldados. "A pessoa que vimos é Saddam Hussein, caído, com medo e covarde, rendendo-se na primeira oportunidade", disse o chanceler iraquiano, Hoshiyar Zebari.
Um montinho de gravetos e um tapete de borracha denunciaram o esconderijo, em um sítio no povoado de Ad Dawr (noroeste do Iraque). Os soldados americanos vasculhavam o local em busca de um "peixe grande". Somente os comandantes sabiam a quem conduziriam as indicações fornecidas por prisioneiros dos EUA, ex-aliados do ditador deposto.
Segundo o comandante da operação, coronel James Hickey, não houve celebração no local. "Era apenas negócios", disse, acrescentando que "havia procedimentos a serem seguidos".
Levado para um local não revelado, o ditador está sendo submetido a sucessivos interrogatórios. Fontes militares americanas citadas pela rede de TV CNN disseram que esse local seria em Qatar, mas, depois, o comando dos EUA desmentiu, e membros do Conselho de Governo Iraquiano disseram ser no Iraque.
As sessões já renderam, segundo o comando militar americano, duas prisões. Um dos detidos, cuja identidade não foi divulgada, é uma figura graduada próxima ao ex-ditador.
A preocupação dos interrogadores é o relógio. Quanto mais tempo passa, disseram agentes de inteligência, mais as informações que Saddam poderia fornecer perdem a validade -já que seus antigos aliados foragidos mudariam de esconderijo sempre.
Relatos de militares dizem que o ex-ditador está falante, mas mantém o tom sarcástico e não colabora com seus inquisidores. Mesmo assim, documentos encontrados com ele no sítio em que foi capturado forneceram nomes e provas para que os EUA efetuassem mais capturas.
O presidente George W. Bush afirmou não ter expectativa de que Saddam forneça informações sobre o suposto arsenal de destruição em massa que Washington o acusava de manter ou sobre outros temas envolvendo práticas ilícitas de seu regime. "Ele é um tipo de pessoa em que não se pode confiar", disse Bush.
As declarações do ex-ditador, que segundo militares dos EUA se mostrava "confuso e desorientado" ao ser preso, se limitam à contestação das perguntas que lhe são feitas e à retórica nacionalista.
Ele admite sua identidade, não opõe resistência a exames médicos e testes de identidade e não objeta ser levado de um lugar para outro. Mas especialistas de serviços secretos acreditam que levará meses até que se consiga dobrar Saddam nos interrogatórios.
Segundo membros do conselho iraquiano que o visitaram, o ex-ditador é um homem "acabado". "Ele é, acho eu, um homem arruinado psicologicamente e muito desmoralizado. Sua linguagem corporal mostra que ele está na pior", disse Muwaffaq al Rubaiye, um dos integrantes do grupo. "Ele se sente mais seguro com os americanos."

Com agências internacionais

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