São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Lula se equivoca ao referendar Morales, afirma governador

Segundo Rubén Costa, Santa Cruz não chantagearia o Brasil

DA ENVIADA A LA PAZ

Questionado sobre a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz à Bolívia a partir de hoje, o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, afirmou que lamentava que o governo brasileiro estivesse "referendando" o governo Evo Morales neste momento de crise política com as regiões.
"O que vai acontecer depois é que vai ganhar a democracia, vai ganhar essa locomotiva aqui. Um dia o presidente Lula vai ter de se sentar conosco", disse Costas.
"E nós não vamos trabalhar com chantagens, como fez o presidente Morales. Nós não vamos pressioná-lo. Nem usar as ameaças veladas que [Morales] faz sempre. Temos outra maneira de ser", acrescentou, em alusão ao processo de nacionalização dos hidrocarbonetos em 2006, quando as instalações da Petrobras na Bolívia foram ocupadas pelo Exército.
"Obviamente, lamentamos muitíssimo que não haja essa deferência para essa região que é tão importante, tão amiga e irmã de Brasil", continuou o governador, o principal nome da oposição a La Paz.
Em Santa Cruz, produtores brasileiros são responsáveis por 35% da produção de soja, e a capital do departamento abriga a sede da Petrobras no país.

Milosevic
O governador afirmou que o projeto de autonomia é uma demanda histórica de Santa Cruz e que conta, há anos, com mobilizações populares maciças. Há um ano, os organizadores dizem ter reunido um milhão de pessoas a favor da proposta. "Seremos um milhão de oligarcas?", questionou. Negou que o movimento tenha qualquer tinta separatista.
Em entrevista à imprensa estrangeira e local, Costas negou que o estatuto aprovado tenha traços racistas, como acusa o governo Evo Morales.
"Querem fazer disso um problema étnico. Não é. Sabe quantos indígenas temos na Bolívia? 70% da população se declara mestiço. Eu por acaso tenho cara de polonês? Eu sou mestiço, como o presidente Morales também é", afirmou, devolvendo ao presidente as acusações de racismo.
Defendeu que Santa Cruz queira legislar sobre terras, e disse que o departamento é contra o latifúndio. Segundo o governador, alguns "estão buscando um Milosevic", disse em referência ao líder sérvio da guerra dos Bálcãs, acusado de liderar genocídio.
Costas, que comanda o departamento responsável por 35% do PIB boliviano, afirmou ainda que a situação é preocupante no país e que está disposto a fazer "um grande pacto nacional", se La Paz se dispuser a conversar com os governadores tendo como mediadores países amigos.


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