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Em La Paz, Morales faz novo apelo à unidade nacional
LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
Enquanto crescia a tensão
nos redutos que se opõem a
Evo Morales na Bolívia, La Paz
assistiu na tarde de ontem a
uma marcha patrocinada pelo
governo para celebrar a entrega
da nova Carta. Cercado por povos indígenas e movimentos
sociais que o apóiam, Morales
encerrou o ato com um recado
claro aos opositores de que não
permitirá a divisão da Bolívia e
de que as Forças Armadas estão
com ele.
"Sob o pretexto de autonomia, querem dividir a Bolívia. E
isso não iremos permitir", afirmou, da sacada do palácio Quemado, a sede do governo. "Estou seguro de que nenhum
membro das Forças Armadas
vai se prestar a esta classe de
autonomistas que querem a divisão ou um golpe de Estado.
Estamos em tempo de democracia. O povo boliviano, que é
este Exército de todas as cores,
não vai permitir que dividam a
Bolívia."
Medindo forças
Num dia em que oposição e
governo mediriam forças pelo
país, Morales levou 80 movimentos sociais e 36 grupos indígenas para um desfile em
frente ao palácio que durou
quase quatro horas e se assemelhou a uma comemoração
cívica de data nacional. Os organizadores contaram 8.000
presentes. O desfile acabou
com uma marcha das Forças
Armadas e da Polícia Nacional.
No ato, foi deflagrada a campanha pelo "Sí" no referendo
que deve ser feito dentro de 60
dias para ratificar o texto da nova Constituição, aprovada sob o
boicote da oposição.
Morales foi sarcástico ao comentar a postura dos constituintes oposicionistas, que não
participaram da votação final,
após um ano e quatro meses de
debates: "Esses cavalheiros não
trabalharam, só prevaricaram.
Se querem ser respeitados, deviam devolver o dinheiro à pátria boliviana", afirmou, sob
aplausos.
O governo tentou dar um
tom histórico à entrega do documento. Os constituintes, nos
discursos, foram chamados de
"heróis das transformações
profundas e democráticas" e
"milagrosos".
Mas a unanimidade ruía a
poucas quadras da praça Murillo, onde fica a sede do governo.
"Há incertezas, há ameaças. Há
dinheiro em La Paz, mas não
nos nossos bolsos. Esta Constituição é só dele [Evo]", reclamava a secretária Marta, que de
longe assistia a marcha.
A população começou a chegar aos arredores da praça, no
final da manhã, e sob chuva.
Vieram, segundo relatos, com
recursos pagos pelas instituições que representam e que
têm respaldo do governo federal desde a eleição de Evo. Chamou a atenção o envolvimento
do aparato militar e policial -
eles rivalizavam em número
com o povo que lotou a praça.
Depois do desfile, deu-se início a uma seqüência de discursos que invariavelmente terminava com "que viva a Constituição", "que viva a revolução democrática" ou "que viva Evo".
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