São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Grupos pró-Morales tentam bloquear acesso a Santa Cruz

Bloqueios acontecem no dia em que departamento oposicionista se prepara para anunciar Estatuto Autonômico em festa popular

Em La Paz, presidente lidera cerimônia para comemorar aprovação da nova Carta, seguida de marcha de militantes governistas

Dado Galdieri -14.dez.2007/Associated Press
Músicos em trajes tradicionais cruzenhistas tocam para animar grupo de pessoas que há dias fazem greve de fome em defesa da autonomia, em Santa Cruz


FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ

Organizações de camponeses pró-Evo Morales fecharam na madrugada de ontem os principais acessos terrestres ao departamento oposicionista boliviano de Santa Cruz, em protesto contra o Estatuto Autonômico da região, que ignora o novo texto constitucional do país aprovado por governistas e aliados.
Segundo o jornal cruzenho "El Deber", as ligações com os departamentos de Beni e Cochabamba estavam bloqueados por moradores do interior, que não apóiam a iniciativa liderada pela capital de fazer campanha pela independência administrativa em relação a La Paz.
Nas primeiras horas da manhã, não havia ainda na cidade de Santa Cruz concentração de policiais ou manifestantes -a favor ou contra Morales- , após dias de guerras de nervos entre oposicionistas e governo e temores de confrontação.
Enquanto os políticos e empresários cruzenhos se preparavam para apresentar em uma festa popular o Estatuto Autonômico, em La Paz, centenas de militantes de movimentos sociais e indígenas aguardavam que o presidente Evo Morales liderasse cerimônia para comemorar a aprovação do texto da nova Carta.
Imaginados à imagem e semelhança -e para que simultaneamente disputem os holofotes bolivianos- os eventos paralelos são resultado da crise política entre La Paz e os departamentos (Estados) oposicionistas. Além de Santa Cruz, os oposicionistas Pando, Beni e Tarija também apresentariam seus Estatutos Autonômicos ontem.
Em meio ao clima de tensão, o governo boliviano abriu a possibilidade de colocar embaixadores da União Européia como observadores em um eventual diálogo entre o presidente Evo Morales e os quatro departamentos que querem autonomia, disse o porta-voz da Presidência, Alex Contreras.
O governador de Santa Cruz, Rubén Costas, decretou a gratuidade do transporte público para arregimentar apoiadores à festa da autonomia num parque da cidade. Um palco gigante foi instalado -a empresa de publicidade Mahs afirmou que fez o serviço, a um custo de US$ 20 mil, sem cobrar, em nome da autonomia. Empresários também produziram blusas com slogans da campanha e o artigo mais popular eram tiras com dizeres autonômicos para prender o celular.
Como os departamentos não têm polícia própria, a segurança na festa de ontem ficaria por conta da guarda departamental -que não pode usar armas- e dos integrantes da União Juvenil Cruzenha, espécie de braço executivo do movimento. Os jovens, que negam usar armas, são freqüentemente acusados de coagir a população a participar das manifestações.
Santa Cruz é o mais rico departamento boliviano, responsável por 35% do PIB do país. O Estatuto Autonômico foi aprovado por uma Assembléia Provisória, formada pelo governador, parlamentares nacionais, prefeitos e representantes indígenas. A idéia, dizem os organizadores do movimento, é colher assinaturas para que o projeto vá a referendo.
Enquanto o governo de Evo Morales diz que a iniciativa é ilegal, TVs e rádios cruzenhas fazem contagem regressiva como se o documento representasse a declaração imediata de independência administrativa em relação a La Paz.
Os cruzenhos querem legislar sobre distribuição de terras e gás e petróleo, além de ter policia própria -todas atualmente competências exclusivas do governo nacional.


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