São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

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"WikiLeaks revela EUA decadentes"

Álvaro García Linera, vice-presidente boliviano, diz que despachos diplomáticos são "comentário de sobremesa"

Ele diz que presidente Evo Morales poderá disputar um terceiro mandato, caso haja apoio de movimentos


CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Os telegramas da diplomacia dos EUA vazados pelo site WikiLeaks mostram uma "espionagem decadente", baseada em rumores e "comentários de sobremesa", afirmou, em entrevista à Folha, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera.
"Surpreende que uma potência elabore políticas de Estado a partir desse tipo de informação tão imprecisa.
Chama atenção que os informes sejam marcados pelos preconceitos", disse ele, que colocou na página oficial da Vice-Presidência os despachos sobre seu país.
Ele foi sutil ao comentar o teor de um despacho que relata conversa em que o ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, menciona à embaixada americana um suposto tumor no nariz do presidente Evo Morales -doença negada pelo governo vizinho.
"O que posso dizer do que disse o ministro? É anedótico. Mas o problema não é dele, é do informe do embaixador, que converte um comentário superficial em tema central de sua política de Estado", afirmou.
Matemático e sociólogo, García Linera deu entrevista na última segunda, enquanto almoçava pão e queijos num hotel de Copacabana, no meio de ponte-aérea de dez horas (ida e volta) entre La Paz e o Rio, onde lançou seu livro "A Potência Plebeia" (editora Boitempo).

TERCEIRO MANDATO
Ele admitiu que Morales poderá disputar um terceiro mandato em 2014, o segundo sob a nova Carta, que permite uma reeleição -voltando atrás em promessa feita à oposição em 2009, antes do referendo que aprovou o texto constitucional.
"O presidente Evo tem que acatar, como sempre fez, o que os movimentos sociais disserem. Se esses setores voltarem a tomar a decisão de que deve continuar sendo o líder, o candidato, a Constituição permitiria."
García Linera afirmou que seu governo quer colaborar com o Brasil e a "comunidade internacional" em ação "implacável" contra o narcotráfico -a entrada de cocaína boliviana, inclusive para produzir crack, foi atacada na campanha eleitoral daqui pelo tucano José Serra.
Disse que La Paz está renovando sua frota aérea de vigilância, aumentou as penas dos traficantes e fez acordos com o governo brasileiro para receber informações de inteligência para o controle da fronteira.
Mas não permitirá, afirmou, que a DEA (agência antidrogas americana) volte a atuar no país, de onde foi expulsa em 2008.
"A DEA lutava contra o narcotráfico quando lhe convinha, e quando lhe convinha fomentava o narcotráfico. Foi um mecanismo de controle político no país, e isso não podemos aceitar."
O vice elogiou a atuação das Forças Armadas em obras de infraestrutura e na proteção dos recursos naturais bolivianos.

VENEZUELA
No livro, ele ressalta a importância da fidelidade dos militares ao governo no conflito em que governadores oposicionistas chegaram a impedir o pouso do avião presidencial, em 2008.
García Linera negou que essa lealdade tenha sido "comprada" por ajuda financeira da Venezuela, como avaliaram os EUA.
"O governo do presidente Evo reivindicou como nenhum outro o conceito de soberania do Estado, tema que é a alma das Forças Armadas. Antes, havia norte-americanos que andavam armados no Chapare [região produtora de coca] e mandavam mais do que a tropa militar e policial."

FOLHA.com
Leia íntegra da entrevista
folha.com.br/mu846390


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