|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Liderança brasileira é fato, admitem argentinos
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
Os argentinos avaliam que o
Brasil deverá ser o protagonista
da América Latina na próxima
década e que, nesse cenário, a estratégia da Argentina deveria ser
aliar-se aos países da região, aceitar a liderança brasileira, fortalecer o Mercosul e integrar-se mais
à economia mundial.
A conclusão é de pesquisa feita
pelo Cari (Conselho Argentino
para as Relações Internacionais),
no final de 2002, com 2.600 argentinos, para saber a opinião da população em geral (e de formadores de opinião em particular) sobre o papel internacional do país.
A pesquisa mostra que 44% dos
argentinos consideram um fato a
liderança do Brasil na América
Latina. Entre os formadores de
opinião, são 57%.
A certeza da liderança do Brasil
contrasta com o pessimismo em
relação à Argentina: 7 em cada 10
entrevistados dizem que o papel
do país no cenário internacional
será de baixa importância
-eram 2 entre 10 em 1998.
Mais Mercosul
Questionada sobre quais devem
ser as prioridades diplomáticas
do país, a maioria dos argentinos
aponta para estratégias econômicas de inserção na economia
mundial, passando por uma
maior integração regional.
Oito em cada dez entrevistados
dizem que é importante para o
país a participação no Mercosul,
ainda que a maioria afirme que,
até agora, o bloco trouxe poucas
vantagens. Novamente, a aprovação dos formadores de opinião é
maior: 90% apóiam o Mercosul.
"Os argentinos sempre tiveram
uma imagem muito boa do Mercosul. Houve, em alguns momentos, a tentativa de culpar o bloco
pelas crises, mas isso partia de setores isolados, protecionistas",
diz Julio Burdman, da consultoria
Nova Maioria.
Relações carnais
A pesquisa do Cari mostra que
na maioria dos temas, tanto na
área econômica quanto na política, a avaliação da população converge com a dos formadores de
opinião. Há, no entanto, uma exceção: a população parece disposta a enterrar o período de alinhamento do governo argentino com
as posições americanas. Já os formadores de opinião continuam
apoiando a estratégia.
Na década de 90, o governo Menem (1989-99) estreou um período de alinhamento aos EUA sem
restrições, o que o então chanceler
argentino, Guido di Tella, classificou de "relações carnais".
Hoje, 54% da população diz que
o alinhamento com os EUA prejudicou o país. Apenas 19%
acham que a estratégia beneficiou
a Argentina. No caso dos formadores de opinião, o quadro se inverte: 54% dos entrevistados diz
que o alinhamento com os EUA
beneficia o país.
Alinhamento com Brasil
Alguns resultados são contraditórios. Quando questionados sobre com quem a Argentina deveria manter relações mais firmes e
estreitas, os argentinos respondem: Europa (24%), EUA (22%) e
Brasil (10%). Já no caso dos formadores de opinião, o quadro é
um pouco diferente: EUA (38%),
Brasil (36%) e Europa (13%). Como a margem de erro é de dois
pontos percentuais para mais ou
para menos, o Brasil e os Estados
Unidos estão empatados na preferência dos formadores de opinião argentinos.
Contradição? Não, explica
Burdman: os argentinos pensam
a integração internacional por
meio do Mercosul, o que já incluiria o Brasil.
Para o analista da Nova Maioria,
há apenas um cenário em que as
relações entre Brasil e Argentina
não seriam tão estreitas: vitória de
Carlos Menem na eleição presidencial, em abril. "A predisposição para fortalecer o Mercosul
não diminuiria, mas o desejo de
se alinhar aos EUA poderia levar a
um maior unilateralismo", diz
Burdman.
Texto Anterior: Criação de grupo buscou equilíbrio Brasil-EUA Próximo Texto: Oposição e Chávez elogiam criação de grupo Índice
|