São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

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Deusa exigia a prostituição sagrada

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS

Ishtar, que dá nome ao mais vistoso portão da magnífica cidade de Babilônia, era a deusa da guerra e do amor sexual na religião mesopotâmica. Também identificada à fertilidade e ao planeta Vênus, alcançou enorme popularidade no Oriente Médio.
Uma das razões para o sucesso é que os templos dedicados a Ishtar se contavam entre os mais ricos. Recebiam o dinheiro resultante da prostituição sagrada e o emprestavam a juros, no que pode ser traçado como a origem dos modernos bancos.
Ambas as práticas nem sempre foram vistas com bons olhos. A prostituição sagrada, por exemplo, chocou o grego Heródoto, o primeiro grande historiador:
"Vejamos agora o costume mais vergonhoso dos babilônios. É preciso que cada mulher do país, uma vez em sua vida [normalmente antes do casamento], se una a um homem estrangeiro no templo de Afrodite [é como Heródoto traduz Ishtar] (...) Quando uma mulher está sentada ali, tem de esperar, para poder voltar a sua casa, que um estrangeiro lhe tenha jogado dinheiro nos joelhos e se tenha unido a ela no interior do templo (...) Dá-se a soma de dinheiro que se quer e a mulher não tem absolutamente o direito de recusar o homem, pois o dinheiro é sagrado [a soma não ficava com ela, mas era entregue ao templo] (...) As que são belas e têm um belo corpo podem voltar rapidamente para casa; mas as feias são obrigadas a ficar ali por muito tempo. Algumas ficam lá por três ou quatro anos.
A combinação deusa-prostituição-juros foi tão bem-sucedida que, num desenvolvimento posterior da religião mesopotâmica, Ishtar assumiu o papel de rainha do Universo, tomando os lugares de An, Enlil e Enki, antes os deuses mais poderosos do panteão.


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