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Deusa exigia a prostituição sagrada
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
Ishtar, que dá nome ao mais vistoso portão da magnífica cidade
de Babilônia, era a deusa da guerra e do amor sexual na religião
mesopotâmica. Também identificada à fertilidade e ao planeta Vênus, alcançou enorme popularidade no Oriente Médio.
Uma das razões para o sucesso é
que os templos dedicados a Ishtar
se contavam entre os mais ricos.
Recebiam o dinheiro resultante
da prostituição sagrada e o emprestavam a juros, no que pode
ser traçado como a origem dos
modernos bancos.
Ambas as práticas nem sempre
foram vistas com bons olhos. A
prostituição sagrada, por exemplo, chocou o grego Heródoto, o
primeiro grande historiador:
"Vejamos agora o costume mais
vergonhoso dos babilônios. É
preciso que cada mulher do país,
uma vez em sua vida [normalmente antes do casamento], se
una a um homem estrangeiro no
templo de Afrodite [é como Heródoto traduz Ishtar] (...) Quando
uma mulher está sentada ali, tem
de esperar, para poder voltar a sua
casa, que um estrangeiro lhe tenha jogado dinheiro nos joelhos e
se tenha unido a ela no interior do
templo (...) Dá-se a soma de dinheiro que se quer e a mulher não
tem absolutamente o direito de
recusar o homem, pois o dinheiro
é sagrado [a soma não ficava com
ela, mas era entregue ao templo]
(...) As que são belas e têm um belo corpo podem voltar rapidamente para casa; mas as feias são
obrigadas a ficar ali por muito
tempo. Algumas ficam lá por três
ou quatro anos.
A combinação deusa-prostituição-juros foi tão bem-sucedida
que, num desenvolvimento posterior da religião mesopotâmica,
Ishtar assumiu o papel de rainha
do Universo, tomando os lugares
de An, Enlil e Enki, antes os deuses mais poderosos do panteão.
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